sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Fala mais que homem da cobra

§ Eu escutei essa expressão pouquíssimas vezes na vida. Mas o que me chamou a atenção foram as explicações que deram a elas. Se procurarmos na internet, encontraremos várias. Por exemplo, aqueles indianos que levavam cobras no cesto de cidade em cidade, e quando tocavam suas flautas, elas começam a subir, como que hipnotizadas. A explicação é que esses homens da cobra contavam muitas ladainhas, falavam muito, surgindo então a expressão. Há também a história de que o homem da cobra é o homem da cobrança, que passava de casa em casa falando bastante, a fim de receber os pagamentos.
§ Enfim, a razão desse texto é que eu gostaria de adicionar uma verão para explicar a expressão.
A família do meu pai é de um pequeno povoado chamado (Santo Antônio da) Cobra, situado nos arredores de Parelhas, uma cidadezinha no interior do RN. A Cobra deve ter por volta de 700 habitantes, e se contarmos com os "cobreiros" que não moram lá mais os seus descendentes, deve-se chegar perto de dez mil pessoas. E todo mundo é parente; de primeiro a décimo grau, todos os que são ou descendem da Cobra têm algum grau de parentesco.
§ O povo da Cobra possui características bem peculiares e marcantes. São muito inteligentes, especialmente na área das ciências exatas (eu não herdei essa inteligência...), um pouco doidos (é comum ouvir nas cidades vizinhas que quem é da Cobra ou é doido ou é doutor) e falam MUITO. Mas é muito mesmo. É um povo que não pára de falar. E o mais incrível: falam todos ao mesmo tempo e, apesar disso, conseguem se entender.
§ A expressão do homem da Cobra parece ser bem antiga, talvez de uma época em que o povoado potiguar mencionado nem sonhasse em existir. Mesmo assim, nas poucas vezes que eu ouço alguém citar essa frase, gosto de pensar que ela tem origem nesse lugarzinho que também faz parte das minhas origens. Mesmo assim, discordo da expressão. É impossível alguém falar mais que os homens da Cobra!

sábado, 13 de dezembro de 2008

Clássicos da sessão da tarde

§ Num momento (há bastante tempo) no qual estava à toa (é assim que se escreve?) decidi fazer um top 10 dos clássicos da sessão da tarde. Quero deixar bem claro que apesar de às vezes parecer bem pessoal, procurei ser o mais imparcial possível, e até incluí um filme que não gosto muito, mas que acho bem “cara de sessão da tarde”.
§ Clássicos da sessão da tarde são aqueles filmes que já passaram um milhão de vezes, e apesar de você ter assistido a quase todas, se não se mata para assistir pela milionésima primeira vez, pelo menos não muda mais de canal quando vê que está passando. A ordem não significa que o segundo é melhor que o décimo, ou vice-versa. É só uma ordenação mesmo, com exceção do primeiro:
§ 1- Os Goonies: Sim, esse é o mais clássico, pra mim o melhor! Não está em primeiro lugar por acaso. Quem nunca sonhou em viver uma aventura como a daqueles meninos? Encontrar um mapa que leva a um tesouro de piratas, fugir de bandidos, conhecer um monstro bonzinho, salvar a cidade de virar um imenso campo de golfe! Sem falar nas artimanhas do Bocão, nas engenhocas do Dado, nas trapalhadas e mentiras do Gordo... Os goonies é um clássico!
§ 2- Mudança de hábito II: O primeiro filme também é muito bom, mas o II é mais “clássico de sessão da tarde”. As velhas piadinhas de adolescentes que não querem nada com nada e depois, com a ajuda da “freirinha” moderníssima [e como num passe de mágica, porque a gente sabe que na vida real as coisas não funcionam assim] se transformam em jovens exemplares, ao som de happy day e joyful joyful, também é demais. Tento assistir toda vez que passa!
§ 3- Esqueceram de mim: E aqui eu incluo o 1 e o 2. Vamos falar a verdade que vários filmes do M. Culkin da época em que ele era o astro-mirim mais queridinho de Hollywood são um clássico. Mas esses dois merecem um tópico. Bem divertidos, acho que toda criança já quis ter aquela família louca e ser esquecida em casa ou em New York [isso eu quero até hoje!] para viver aquelas aventuras.
§ 4- Meu primeiro amor: Ah... outro do M. Culkin que não poderia passar em branco. Um dos filmes mais fofos já produzidos, apesar do final imensamente triste. Aliás, esse fim, apesar de trágico, é um dos mais realistas dos clássicos aqui apresentados. Nos ensinou que a vida nunca vai ser um mar de rosas, e que nós vamos chorar muito ainda. Mas vale a pena. E ainda tem a maravilhosa “my girl” na trilha sonora.
§ 5- Curtindo a vida adoidado: Taí um filme que eu nunca consegui assistir inteirinho, só alguns pedaços. Mas enganar os pais dizendo que está doente, chamar a namorada e o melhor amigo pra matar um dia inteirinho de aula, parar o centro de Chicago cantando Twist and Shout e ainda jogar uma Ferrari pela janela para no fim do dia para tudo isso ter dado certo, merece entrar na lista e dispensa mais comentários!
§ 6- Dirty Dance: Eis o filme que não gosto. Sim, me sinto até mal quando falo pra um zilhão de mulheres que amam esse filme que eu não gosto dele. E não gosto mesmo, acho chatinho demais. Porém como ele alcança bons índices de audiência, causa histeria na mulherada e tem aquela cena clássica do “I’ve had the time of my life” no final [essa parte confesso que gosto], vai entrar na lista.
§ 7- Todos do Indiana Jones: Aqui eu confesso que não fui nem um pouco imparcial. É que eu sempre amei aventuras, e Indiana Jones é um prato cheio! Dedico este espaço então a todos os filmes dele e também àqueles relacionados a aventuras na África em busca de tesouros e civilizações antigas.
§ 8- Uma noite de aventuras: Agora tá bem claro que eu amo aventuras... mas a história de uma babysitter que, acompanhada de 3 garotos que cuidava, parte para socorrer uma amiga que fugiu de casa e está em apuros, quando um pneu do carro estoura e eles são socorridos por um caminhoneiro sem mão que foi traído pela mulher, metem-se num tiroteio, são seqüestrados e perseguidos por bandidos, ficam pendurados num edifício de mais de 100 andares, têm que fugir andando num telhado, são envolvidos em uma luta de gangues dentro do metrô, confundem ratazanas com gatinhos quando perdem os óculos, entram em um bar de blues e: "ninguém passa por aqui sem cantar um blues", também se auto-explica.
§ 9- O enigma da pirâmide e loucuras em plena madruga: Mais uma vez a escolha é bem pessoal. Nenhum dos dois é muito conhecido, mas decidi colocá-los aqui por dois motivos: o primeiro assisti um milhão de vezes quando era pequena, o segundo só assisti uma vez, mas nunca mais esqueci. Que eu lembre, só passou aquela vez mesmo, uma pena...
§ 10- Miscellaneous: Não, isso não é nome de filme. É que decidi mencionar aqui vários filmes que também são clássicos, mas que eu nunca assisti: clube dos cinco, garota de rosa shocking, namorada de aluguel, a lenda de Billie Jean... Fora os que eu já vi mas só lembrei agora: conta comigo, agora e sempre, convenção das bruxas, olha quem está falando...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sobre o 'garotas' e as 'nights'

§ Eu não sou do tipo de pessoa que tem e/ou conhece um milhão de websites para acessar. A internet pra mim funciona mais ou menos assim: e-mails, sites de notícias, orkut, este blog de vez em quando, google e os respectivos endereços eletrônicos que encontro para as minhas pesquisas, emule às vezes para baixar músicas, youtube mais de vez em quando ainda (ou praticamente nunca, para ser honesta), e alguns poucos sites que eu freqüento com certa regularidade, como o adorocinema e o garotas que dizem ni, do qual me tornarei órfã agora.
§ Eu conheci o 'garotas' em 2003, por meio da revista Época. Em pouco tempo (entenda-se pouco tempo como umas três edições) se tornou a minha coluna preferida. Toda quarta de manhã, quando a revista chegava lá em casa, eu corria, lia o sumário para ver as matérias que mais me interessavam, e logo em seguida lia a coluna das três jornalistas que não se levavam muito a sério. Além da diversão certa, o que eu sempre achava legal era a identificação das idéias. Elas conseguiam por no papel, de forma irônica e educada, as coisas que eu também pensava, mas não tinha criatividade e neurônios sufientes para escrever.
§ Depois de um tempo, meu pai cancelou a assinatura da revista, para a minha tristeza. Passei a acompanhar as garotas religiosamente pelo site. Quando meu pai voltou a assinar a Época, a coluna delas não existia mais, para a minha revolta. Mas com as garotas eu também aprendi que o azar era deles.
§ Enfim, depois de muitas crônicas divertidas e sensíveis sobre cinema, música, literatura, lembranças e memórias, política, situações cotidianas, entre outros assuntos, as meninas anunciaram que o site acabará. Fiquei muito triste, óbvio. Fiquei órfã mesmo. Logo eu, que nem "tenho" muitos sites para acompanhar...
§ Como uma singela homenagem, vou postar aqui um dos milhares de textos das garotas que eu gosto tanto. É sobre baladas, ou nights, para nós cariocas. É uma explicaçãozinha sobre o fato d'eu, e de tantas outras pessoas, não gostarem de curtir filas para entrarem em um espaço superpovoado cheio de "gente bonita", com bebidas que custam os dois olhos mais um dos rins, e passar uma semana com cabelo fedendo a cigarro, mesmo lavando um milhão de vezes.
Espero que, como eu, os leitores imaginários deste blog curtam.
Daqui para a balada
Ei, tá a fim de sair hoje? Vamos lá, damos um rolê de carro, daí a gente escolhe uma boa balada e entra! Olha, mas eu não estou falando de restaurante, com essas coisas de jantar e vinho e café cheiroso no final, viu? Nem cinema. Não, pizza em casa também não, credo, que coisa de velho! Tem que ser balada. E balada forte, daquelas com música moderna no talo, milhares de pessoas dividindo a pista e água vendida a 8 reais. Sem gelo.
Ah, poxa, não torce o nariz... Pensa assim: se tanta gente faz esse tipo de programa, é porque deve ter muita coisa legal. Não sei, talvez seja pela freqüência, oras. Sempre ouço dizer “em tal lugar só vai gente bonita”. Tudo bem, eu também não entendo direito. Seria “gente bonita” uma afirmação real, ou seja, existe um detector de boniteza na porta e só é permitido o ingresso de quem se encaixe nos padrões do aparelho? Ou seria um eufemismo para “aqui só entram malditos ricos vestidos como vitrine de shopping”? Bom, não sejamos preconceituosos. Vai que a “gente bonita” é também simpática e inteligente, poxa?!
E se não tiver ninguém com um papo razoável, tudo certo também, uai. A gente acha uma mesa, pede uns drinques, umas porções e conversa. Ah, precisa de reserva pra pegar mesa? E os drinques se resumem a cerveja, uísque ou aqueles troços azuis com um triângulo de abacaxi decorando a borda do copo? Minha nossa. Podemos pedir Coca ou Guaraná? O quê?? Tem bar que cobra seis mangos por uma latinha?? Quanto custará então a cumbuca de pasteizinhos, 20 paus? Jura?
Esquece. Nós temos força de vontade e podemos passar sem essa. Podemos lanchar em casa antes e depois sair. É verdade, podemos até tomar banho demorado, comer sanduíche, assistir um filme e só depois sair, afinal balada só começa lá pela meia-noite. Força, vai, a gente agüenta acordado.
Vamos lá com o intuito de dançar e pronto! A pista é nosso lar. Se não conhecermos as músicas? Bom, a não ser que estejamos na noite do flashback, é bem possível que aconteça mesmo, não vou mentir. Afinal, somos ruins à beça com essa coisa de música eletrônica, não é? Mas também, não dá pra cantar junto e a coreografia mais parece a de um robô em curto-circuito. Natural que parte da moçada precise de um comprimidinho do capeta pra digerir essas “canções”... Só vendo girafas roxas tocando flauta mesmo para curtir mais do que oito minutos de tecno.
Ai, pára, vá, nós estamos ficando chatos. Vamos sair de uma vez e tenho certeza que a gente pode curtir. Não, não vai ter fila pra entrar. Se tiver, a gente espera um pouquinho. Afinal, fila em balada é coisa muito comum hoje em dia, temos que nos mesclar. E no fim da linha ainda podemos fazer uma graça, ué.
Quando a moça da portaria perguntar nossos nomes, eu posso dizer que me chamo “Luz Del Fuego”? Ou “Mata Hari”? Ah, deixa, por favor! Serão dois minutos superdivertidos soletrando isso! Depois vai acabar a graça, claro, porque logo haverá uma pessoa conferindo nossa bolsa e apalpando nossos quadris à procura de fuzis e granadas... Tudo bem, podemos vencer o obstáculo e segurar a dignidade.
Só não me responsabilizo por manter a calma diante de bêbados e garotas que dançam jogando cabelo para os lados, ok? Não, aí já é demais. Se o sujeito pegar no meu braço e falar perto do meu ouvido, eu vou gentilmente pisar-lhe o pé e pedir licença. Gente que avançou no álcool fala cuspindo, sabe? É meio nojento. E aquelas que demarcam espaço na pista, cotovelando quem ousa invadir seus 13 centímetros de chão, me dão nos nervos. Posso virar minha Coca no vestido dela? Assim, meio sem querer?
Tá, você sabe que eu jamais faria isso mesmo. Não me revoltei nem quando aquele moço queimou a manga da minha blusa com a ponta do cigarro... Era tão linda... Tão nova... Eu mesma tinha costurado. Fazer o quê, se ele queria fumar em meio a 480 pessoas e relou a chama em mim? Acho que não foi de propósito. Mas podia ao menos ter pedido desculpa, né?
Beleza, eu sei que pedir desculpa, ser gentil e pacífico não é um comportamento assim, muito balada. Já entendi. Tudo bem, a gente entra no espírito e se joga! Se voltarmos pra casa sedentos, fedendo, com hematomas, sem dinheiro, tendo pesadelos com o toalete e emburrados, ainda assim terá valido a pena!
Não? Bem... então tá certo. Eu ligo lá na pizzaria. Peço o quê, meia mussarela, meia alcachofra?
Escrito por Flá Wonka (Flávia Pegorin)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Who is fucking hell Malu Magalhães?? (sic)

Por favor, alguém me responda a questão título, que estou ficando desesperada.
Eu ouvi esse nome pela primera vez há cerca de um mês. Tinha marcado um almoço com um amigo que não via há tempos. No meio da conversa ele falou dessa tal malu, dizendo que ela lembrava uma outra amiga nossa. Perguntei quem era a malu, e o mesmo me explicou rapidamente que era uma cantora nova. Não entrou em detalhes, e para mim, o "nova" significava que a mesma tinha surgido há pouco tempo no cenário musical. O que também não deixa de ser verdade.
Abstraí totalmente essa situação, quando, umas duas semanas atrás, começou a "explosão Malu Magalhães". Eu acessava os sites de notícias, e lá estava esse nome. Abri o youtube, e lá estava o nome de novo. Fui fuxicar o orkut dos outros, e lá estava o vídeo intitulado de Malu Magalhães.
Recebi de uma amiga, via orkut também, um link com uma notícia. Fui toda feliz checar e me deparo com algo do tipo "Malu Magalhães e Marcelo Camelo assumem namoro".
Peraí!! Em primeiro lugar, o Camelo não era casado com a Aline? Eu sei. Eu gostava de Los Hermanos (das canções, não dos integrantes), eu sei cantar quase todas as músicas. Não era "oh minha menina és de tudo o que mais belo existe... tua presença ALINE é tão sublime"?
Em segundo lugar: o mais interessante é que a notícia, apesar de citar os dois, enfatizava a pessoa 'malu', e não o camelo. Aí entrou a terceira e mais contudente questão: quem é a porra dessa malu??
Nesse ponto me estressei e decidi procurar informações. A garota tem 16 anos. Ela toca desde os... EPA! Dezesseis anos? Isso mesmo? O Camelo virou pedófilo? Não, a própria menina disse que esse lance de idade tem nada a ver. Aliás, lendo as entrevistas dela, percebi que a mesma foi lançada ao posto de super celebridade inteligentedescoladaidolatradasalvesalveequeveioprasalvaromundo. Malu tem a resposta pra tudo, daqui a pouco vão pedir para ela solucionar essa crise financeira aí.
Depois de tamanha grandiosidade, fui checar a música dela. Afinal, eu parecia ser o único ser que ainda não tinha experimentado a maravilha de ouvir a malu. Tudo bem, a música parecia legalzinha. Não tive tempo (=paciência) para analisar a letra. Mas mesmo assim, eu me pergunto, por que essa adoração toda? Pra que tudo isso? Essa menina é mesmo tão boa? Tem tanta gente compondo, cantando e fazendo a mesma coisa que ela faz.
Posso estar enganada. Pode ser até que esse que esse meu cuspe venha parar na minha cara. É que eu não agüento mais essas coisas, essas notícias de que ex-bbb foi visto comendo a pamonha da tia maria na primeira capa do jornal, como se isso fosse solucionar as nossas milhares de crises e dilemas...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A torta de maracujá


Nestes últimos dias uma torta de maracujá tornou-se o meu maior objeto de desejo.


Eu não gosto de maracujá; nunca tive uma comprovação médica, porém essa fruta e todos os seus derivados atacam o meu fígado. É só beber um suco, comer uma mousse , um bolo ou uma torta de maracujá, que eu passo o dia inteiro enjoada.

Então, por que esse desejo por uma torta? Vou explicar, a torta em questão é simbólica. Ultimamente tenho me dedicado a apenas duas atividades, que estão tomando TODO o meu tempo. Eu não tenho tido lazer, nem sei que filmes ou peças estão em cartaz, há séculos não vejo ou não falo com amigos super queridos, tenho ido dormir às 3 ou 4:00h da madrugada.

Acontece que, em um desses meus últimos dias corridos, eu estava andando apressadamente pela rua quando vi uma cena rápida que me fez pensar em um milhão de coisas em uma fração de milésimos de segundo (perceberam a quantidade de palavras relacionadas à alta velocidade nessa frase?). Eu vi uma pessoa sentada em um balcão de padaria comendo calmamente um pedaço de torta de maracujá. Ela parecia estar tão descansada e tão livre de problemas, funções e responsabilidades, que podia desfrutar e aproveitar despretenciosamente cada segundo do “nada pra fazer”.

Naquele momento, como eu desejei estar comendo aquela torta de maracujá, a despeito de todo o mal-estar que ela me causaria. Como eu desejei estar sentada naquele banquinho alto e desconfortável, vivendo tranqüilamente cada instantezinho.

Após observar, em minha caminhada, a cena de uns cinco segundos, eu continuei apressada no meu caminho, mas passei o resto do dia cheia de sensações e reflexões. E ansiando pelo meu momento de comer aquela torta de maracujá.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Crônicas da vida


Uma amiga minha decidiu conhecer Mendoza, uma cidade de vinícolas na Argentina, por causa de uma música da Mercedes Sosa, Tonada del Otoño ( “Para quien lo ha vivido en Mendoza, otoño son cosas que inventó el amor”).


Mas não bastava conhecer. Ela precisava viver um amor nos poucos dias de outono que passaria em Mendoza. E conseguiu. Teve um amor puro e inocente, sem beijos, sem relações. A princípio eu achei estranho, uma história de amor assim... sem um beijinho sequer. A história de amor surreal que eu gostaria de viver seria mais caliente (ainda mais na Argentina, com aqueles homens, meu Deus...), com uma noite de amor cheia de juras de paixão e um pedido insano de casamento, mesmo que a resposta fosse não (porque nessa hora o realismo já teria voltado a mim).


Porém depois fiquei pensando, para quien lo ha vivido en Mendoza, otoño son cosas que inventó el amor. Tão delicado, tão simples... e tão cheio de significados. Em uma típica cena de outono (que não ocorre no Brasil) as folhas caem e embelezam a paisagem. Outras novas irão surgir nas árvores, e o tempo ameno permanecerá por um tempo. O vento que faz essas folhinhas com tonalidade tão linda rodopiarem tornando tudo tão gracioso e encantador, como é o amor puro.

Os abraços e as mãos dadas sobre a neve daquele fim de outono eram tão delicados quanto a música, tão delicados quanto a cena, tão delicados quanto a sua vontade de viver um amor de outono em Mendoza. Talvez um beijo e o seu pós acabassem com a magia que havia naquela cena.


La de un amor de otoño vivido en Mendoza.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Happy birthday to...me

§ Mais um aniversário. Eu não gosto muito de fazer aniversário. Tudo bem, tem o lado bom: tanta gente morrendo, sendo lançada da janela, sendo assassinada pelo namorado doente e eu aqui, vivendo mais um aninho. Não dá pra ser ingrata; tenho que agradecer a Deus!
§ Mas fazer aniversário também me deixa um pouco deprimada. Penso que é porque eu faço parte de uma geração que quer abraçar o mundo, quer tudo ao mesmo tempo e agora. Então ao completar mais um ano eu lembro das coisas que eu tinha planejado para fazer no ano que passou e que não consegui realizar. E elas estão se juntando ao monte de tantas outras coisas dos anos anteriores...
§ Quando penso por um lado, à medida que estou crescendo (pra não usar o deprimente 'envelhecendo') estou ficando mais madura, mais esperta, mais confiante. Isso é muito bom. Mas por outro ângulo, quando eu era novinha, achava que com essa idade eu já seria adulta, gente grande. Grande eu sou mesmo, porém continuo a mesma criança dos 12, 14 anos.
§ Eu evoluí em muitos sentidos. Fiz coisas e me tornei uma pessoa que até há alguns anos não poderia nem imaginar. Em outros aspectos, continuo fazendo burradas. Analisando rapidamente minha vida, as maiores burradas que fiz foram exatamente as que deixei de fazer.
§ Pra algumas coisas eu sou super corajosa, independente e decidida. Porém para as mais banais, continuo sendo medrosa e extremamente (e desnecessariamente também) racional. Essas coisas banais podem ser traduzidas como a minha vida sentimental. A verdade é que eu tenho muito medo de me machucar, e às vezes não consigo entender por quê... Acho que essa é a área que mais preciso melhorar. Tenho que arrisacar mais. Se eu quebrar a cara, e daí? Se eu quebrar o coração, e daí? Super bonder existe pra isso: juntar os pedacinhos e colar tudo.
§ É arriscando que eu vou ter histórias pra contar, momentos pra recordar e conteúdo pra preencher as páginas do meu livro. E mesmo se a burrada for muito grande, tenho que lembrar que os dias sempre mudam, sempre se renovam. O próximo dia vai ser novinho, pra eu fazer tudo diferente. É a misericórdia de Deus, nos dando uma nova chance todos os dias.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

§ Antigamente eu tinha complexo de magreza e queria engordar a todo custo. Costumava dizer, “neste país, mulher só é bonita quando tem bunda grande e perna grossa, mesmo se for pura gordura”. Continuo acreditando nesse meu aforismo só que, alguns anos e também alguns quilos depois, eu quero agora emagrecer. No intuito de ganhar mais corpo eu comecei a comer exacerbadamente, porém toda a gordura adquirida passou bem longe da bunda e se concentrou na barriga (pança é um termo bem apropriado nesse atual estágio) e no rosto. Eu nunca fui magra-palito estilo modelo, mas também não era “gostosa”. Consegui engordar, que era o meu objetivo, mas continuo insatisfeita (e sem bunda, diga-se de passagem). Agora fico murmurando que estou gorda, obesa, não gosto de me ver sorrindo nas fotos porque o meu rosto fica mais redondo ainda.
§ A questão é que, como todos já sabem, uma pessoa nunca está satisfeita com o que tem, especialmente se a tal pessoa for do sexo feminino. Cabelo, roupas, pele, peso, altura, corpo, profissão, namorado, estilo de vida. Nós estamos sempre reclamando de tudo, querendo ser assim e assado.
§ Há um tempo eu estava conversando com uma amiga minha. Falávamos sobre como as mulheres da nossa geração já têm inculcadas e estabelecidas essas idéias de estudar bastante, ter uma profissão, se independente, casar e ter filhos mais tarde. Nós estamos nesse caminho, tanto por escolha própria quanto pela escolha dos outros. E foi aí que começou a insatisfação. Essa minha amiga tem uma amiga, mais ou menos da nossa idade, que abriu mão de toda essa independência para casar-se e ser mãe. A minha amiga estava meio triste; às vezes sentia-se só e lembrava da amiga dela com o marido e o filhinho, feliz da vida, amando e sendo amada. Essa tristeza não pertencia somente a ela. De vez em quando também me pego com esses pensamentos e até um certo desespero de ficar sozinha, sem filhos, sem constituir uma família. Nós estudamos, pensamos em mestrado e doutorado, mochilamos, fazemos intercâmbio, saímos sem prestar contas a ninguém (exceto nossos pais – não somos tão independentes assim), podemos tomar decisões sem a preocupação de que elas afetem a outras pessoas que estão diretamente ligadas a nós. Nós podemos fazer isso e mais um montão de coisas que essa amiga da minha amiga, por exemplo, não poderia fazer, e se fizesse, teria um grau de dificuldade bem maior. Mesmo assim estamos desesperadas porque não fazemos ou não temos certas coisas. Estamos desesperadas porque estamos sozinhas e (por enquanto) não temos perspectivas de casamento e filhos.
§ Essa é outra característica nossa: querer tudo ao mesmo tempo e agora. Aprendemos com a Física, dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço. Ou no nosso caso, o mesmo corpo não pode estar em lugares diferentes ao mesmo tempo. Não dá pra escalar o Everest com um bebê a tiracolo!
§ Mesmo tendo consciência disso, seguimos reclamando insatisfeitas. Essa amiga da minha amiga, por mais feliz que esteja com a família, também deve ficar triste de vez em quando, vendo as amigas a fazer várias coisas e atividades que ela não pode, porque tem que se dedicar a outras agora. A vida é assim, nunca se está satisfeito.

sábado, 11 de outubro de 2008

§ Eu planejei minha última viagem às pressas. Já tinha bastante tempo que eu desejava conhecer Machupicchu e o Salar de Uyuni, porém uns poucos meses antes d’eu sair de férias, não sabia exatamente para onde iria. Até que as outras alternativas babaram e eu tive certeza: vou mochilar na América do Sul.
§ A segunda certeza era a de que eu iria sozinha. Ninguém estaria de férias no mesmo período que eu, ninguém poderia passar tantos dias distante de suas atividades. Eu não me importei em ter que viajar sozinha, mesmo nunca tendo feito isso antes. Em momento algum bateu preocupação ou receio, apesar de quase todas as pessoas se horrorizarem quando eu falava dos meus planos.
§ Chegou então o aguardado dia. Eu não sei se foi porque eu tinha passado os últimos meses atolada com os trabalhos da faculdade e as dores de cabeça do trabalho (ou seja, sem tempo de pensar em nada, só sonhando com os “momentos bons” da viagem) ou se porque aeroportos têm um clima de despedida (mesmo quando você vai passar só um final de semana em São Paulo), só sei que foi no momento em que eu estava indo pra sala de embarque que o desespero bateu e eu não segurei o choro. Foi nesse momento que eu percebi a loucura que estava fazendo: eu não tinha planejado nada, não tinha reservas, mal tinha roteiro. E estava sozinha.
§ Comecei a chorar, aquele choro que a gente tenta prender a acaba ficando sem ar, piorando a situação. Minha mãe de longe falou pra eu não me preocupar, que daria tudo certo. Eu pensei em desistir, mas sabia que não podia. Eu não iria jogar assim tudo pro alto do nada. Eu sou extremamente medrosa, confesso. Mas sou incrivelmente corajosa também. Parece paradoxo, mas há muito tempo aprendi que medo e coragem não estão em extremos opostos. A coragem não é a ausência de medo, mas uma força pra enfrentá-lo.
§ Antigamente eu tinha medo de ir ao cinema sozinha (hoje não consigo entender o por quê!). Todo mundo achava um absurdo não ir acompanhado, então a gente sempre tinha que marcar com os amigos e os paqueras, mas eles sempre me deram bolos (literalmente) e eu deixei de ver na telona grandes filmes. Um dia me revoltei e decidi ir sozinha mesmo. Nada de mais, não morri de carência e ainda vi uma película super legal que, se dependesse dos outros, teria perdido. A partir disso, foram muitas idas ao cinema, teatro e até ao maracanã sozinha.
§ Pensei, esse mochilão é só um passo a mais. Sabia que muitas outras pessoas já tinham feito (e continuavam a fazer) a mesma coisa que eu iria começar. Então, naquele instante em que eu já estava sozinha, chorando na sala de embarque, falando com minha mãe ao telefone, porém sem vê-la (e saber que ela estava bem ali pertinho, do outro lado, doía mais ainda) eu decidi enfrentar mais aquele “medo”, deixar de lado os comentários atemorizados que eu ouvi (essas pessoas são umas fracas, é isso que são!) e me juntar ao grupo de pessoas que viajam sozinha com a mochila nas costas. E eu me juntei.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Cinderella's tale

§ O pri­ncipe começou sua busca desesperada a fim de encontrar a dona daquele sapatinho de cristal. Procurou em todas as casas do reino, mas não estava sendo bem sucedido. Depois de ter calçado o sapatinho em 90% das moças, finalmente chegou à casa da Cinderella. Ela foi terminantemente proibida por sua madrasta de entrar à sala enquanto o prí­ncipe Encantado estivesse no aposento. A coitadinha então passou a espreitar tudo pela porta da cozinha. Ela estava em estado de êxtase. Aquele sapatinho lhe pertencia e, logo que o prí­ncipe tivesse terminado de calçá-lo nas suas irmãs, Cinderella correria ao seu grande amor para se oferecer a experimentar o bendito calçado. Pronto! Estaria tudo acabado. Ela se casaria com o príncipe e não estaria mais sujeita às humilhações da madrasta e das irmãs. O término de seu sofrimento era questão de alguns minutos. “Elas vão ver! Vão se arrepender quando eu me tornar a rainha deste lugar! Não perdem por esperar: Cinderella Encantado!”
§ O prí­ncipe calçou o sapato na primeira das irmãs; mas o pé da mesma era por demais grande e não coube. Cinderella, que estava escondidinha observando a cena, soltou um riso contido, próprio de alguém que está prestes a ver seu adversário “quebrar a cara”. O príncipe se dirigiu entãoo à outra moça da sala. Prostrou-se diante dela, enfiou-lhe o sapato no pé e (como assim?!?!) ele lhe coube! Foi uma choradeira entre a madrasta e suas filhas. Ali estava a futura rainha do reino! O prí­ncipe estava numa felicidade que só vendo; finalmente tinha encontrado a donzela do baile por quem estava enamorado.
§ Cinderella não pôde acreditar naquilo. Ela, que estava encostada à parede, deslizou até o chão, atônita. Quando se deu conta de que continuaria sendo a empregada da casa, continuaria sendo humilhada, que sua angústia não teria fim, desesperou-se a chorar. Rolava pelo chão derramando lágrimas, se lastimando por tamanha má sorte. Foi interrompida pela madrasta que penetrou a cozinha para ordenar-lhe que fosse arrumar as coisas da irmã, pois a mesma estava de partida para o castelo. “O mundo é muito injusto”, pensou Cinderella. Foi então que percebeu que a metralhadora que seu falecido pai guardava no sótão finalmente seria profí­cua.
§ “O SAPATO É MEU!!!”. Foi com esse grito que ela apresentou-se aos que estavam na sala. Depois disso só se ouviram os tiros. O prí­ncipe recebeu 3 balas na cabeça. “Estúpido! Como pôde confundir meu lindo e delicado pé com o perebento da minha irmã??”.
§ É claro que em decorrência disso Cinderella foi presa. Aliás, condenada à prisão perpétua. Mas conseguiu fugir e dizem que hoje vive com uma tal de Nazaré Tedesco (são lésbicas). As duas andam aprontando suas maldades por aí. Então, tome muito cuidado! Você pode ser a próxima vítima...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Bolívia II

§ Todos sabem, alguns presidentes sul-americanos estão reunidos agora no Chile para discutir a crise boliviana e apoiar Evo Morales. Como sou apaixonada pela América Latina, especialmente por essa nossa parte sul, não posso deixar de acompanhar e escrever (numa tentativa de desabafar a angústia que me aflige) sobre esse assunto.
§ Não pesquisei e por isso não tenho fontes para provar que o que eu penso é verdade, mas acredito que dos países da América do Sul, a Bolívia seja o que tenha a maior influência e população indígenas. Mesmo assim, sempre teve presidentes brancos, elitistas. O penúltimo, aliás, falava espanhol com um fortíssimo acento estadunidense. Isso me lembra o apartheid na África do Sul. Depois de muito tempo, a majoritária população indígena conseguiu eleger um dos seus.
§ Diferentemente do Brasil, a Bolívia não é uma república federativa. Quem lê isso deve até saber melhor que eu (quero deixar bem claro que não entendo muito de política, o que sei é de uma maneira muito crua, sem muita forma): numa federação, os estados que constituem uma nação são autônomos. Isso quer dizer que, por exemplo, tudo de riqueza que o estado do Rio de Janeiro produzir, seja através do petróleo, das indústrias ou do comércio, vai ser aplicado no próprio estado do RJ. É claro que os estados pagam impostos ao governo central federal, mas o dinheiro do RJ não vai ser diretamente aplicado na saúde ou na infra-estrutura do Acre.
§ Na Bolívia os estados não são autônomos (e é isso que eles buscam no momento, gerando essa crise). Então o Evo Morales estava usando a riqueza dos estados mais ricos e aplicando nos estados mais pobres. Usando o dinheiro da elite branca em prol dos campesinos indígenas.
§ Isso é muito bonito, muito nobre. Tudo o que a gente estudou sobre o comunismo / socialismo: distribuir a renda, gerar a igualdade num dos países mais pobres da América Latina. Mas infelizmente a realidade capitalista não funciona assim. Esses estados mais ricos têm o direito de ver a riqueza que produzem revertida em benefício próprio. Evo Morales está implantando uma ditadura para tentar se impor ( e sejamos realistas, de que outra maneira ele conseguiria?), seguindo os passos do Chavez, culpando os EUA por tudo (e é QUASE tudo) em vez de buscar soluções. URSS, Cuba, China já nos provaram que esse não é o caminho certo.
§ Eu nem sei mais o que ou quem é o certo. A única coisa que sei é que a situação daquele povo precisa mudar. Aquela miséria, aquela pobreza, os baixos indíces sociais.
§ Eu só quero que esse país que me proporcionou experiências tão incríveis, momentos inesquecíveis, me mostrou paisagens lindas e inóspitas que nunca sairão da minha mente, seja tão bom para o seu povo quanto foi pra mim.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Bolívia

§ Não sou a pessoa mais indicada para falar de política. Quase não tenho lido nem assistido aos noticiários. Mas quero deixar aqui algumas impressões minhas sobre a Bolívia e a sua crise.
§ Estive lá em junho e pude perceber claramente a divisão política do país. Em La Paz e nas outras cidades altas (e pobres) por onde passei, o apoio a Evo Morales era quase total. Em todas as partes há “pichações” e cartazes de apoio a ele e a população parece feliz de tê-lo na presidência. Pode até ter sido só uma impressão mesmo, mas me pareceu até que a estima daquelas cholas e daqueles outros bolivianos típicos tinha melhorado.
§ Já em Santa Cruz, que foi a única cidade da chamada meia lua (região mais rica do país) onde estive, Evo é odiado. Não encontrei um único ser que o apoiasse. Inclusive, no meu último dia lá o país estava ardendo por conta de um acontecimento: naquele mesmo dia à noite o Evo iria a Santa Cruz e de manhã haviam prendido dois sujeitos que portavam “armas suspeitas”, próximos ao aeroporto da cidade. Eles estavam sendo acusados de tentativa de assassinato ao presidente.
§ Todos os canais de TV só passavam isso. Em todos os lugares por onde eu ia os televisores estavam ligados com várias pessoas em volta. Os rapazes acusados diziam ser inocentes: contaram que estavam apenas caçando na região. Eu não sei se isso é coisa comum por lá - caçar (?!?!) perto de um aeroporto - , mas toda a população de Santa Cruz acreditava neles e dizia revoltada que aquilo era mais um dos golpes do presidente. Como o presidente em questão era o Evo, que é um cachorrinho do Chavez, eu até dei uma de maria vai com as outras e achei que o governo estava alardeando demais (só que na verdade eu pensei na possibilidade de o governo ter pago aqueles caras pra eles fingirem).
§ Enfim, eu voltei ao Brasil na madrugada seguinte e era tanta coisa na minha cabeça, que eu abstraí esse acontecimento e nunca soube qual foi o desfecho.
§ Sobre a atual situação: eu não gosto do Chavez. Ele é um doido varrido que parece ditador de direita (ao invés de herói socialista) e tá doido pra passar a perna no Brasil por puro recalque. O sonho dele era ser o líder da América Latina, mas o nosso país é naturalmente o líder e ele morre de inveja. O Evo é o cachorrinho dele, que faz tudo pra chamar a atenção, mas uma coisa deve ser dita: ele tem sim o apoio da maior parte dos bolivianos. E me dá uma certa tristeza quando vejo ou ouço o que está acontecendo na Bolívia. Nós reclamaos do Brasil, mas eles têm muito mais problemas que nós. A Bolívia é um país pobre, parece uma terra de ninguém...

terça-feira, 2 de setembro de 2008


§ Esse mochilão pela Bolívia e Peru foi umas das melhores coisas que fiz na vida. Por tudo, até pelo fato de ter viajado sozinha. Várias pessoas disseram que eu era louca, e se eu for mesmo, agradeço a Deus, pois essa loucura me fez ver paisagens lindas, inóspitas, que eu acho que mesmo que eu tenha uma amnésia, nunca vou esquecer.
§Viajar sozinha de certa forma também elevou minha auto-estima e me fez confiar mais em mim mesma. Muitas pessoas que eu conheço, incluindo aí muitos marmanjões metidos a macho, não teriam coragem de passar por coisas que passei. Não foi fácil mesmo; por mais que a língua seja parecida, e eu tenha continuado aqui na América do Sul, eram outros países, diferentes do meu. Culturas diferentes, modos de vida de diferentes. E eu tava lá, com a cara, a coragem e a mochila nas costas.
§Fui sem fazer uma reserva sequer. O que eu sabia, era de relatos que tinha lido e informações que tinha buscado nos blogs e orkut. Todo mundo fazia planilhas no Excel, de gastos, de transportes, hospedagens, tours, lugares, deslocamentos, alimentação. Eu não fiz nada disso. A única coisa que eu tinha era uma folha A4, na qual eu tinha digitado os dias e a ordem dos lugares que eu iria visitar. Só isso, sem considerar gastos, meios de transportes, hospedagens, restaurantes, agências. E eu nem mexi nessa folha durante a viagem, porém a segui praticamente à risca, com a exceção de ter estendido em um dia o tempo em Cusco. Valeu a pena, a cidade é linda e agradabilíssima!
§ Então, eu chegava assim com a mochila nas costas e começava a perguntar, a descobrir. Assim que cheguei ao aeroporto de La Paz descobri que um táxi até a cidade me custaria uns 60 bol. Mas sou brasileira e não desisto; em meio aos milhões de taxistas me azucrinando, encontrei uma van que estava indo à cidade e me custaria a bagatela de 3,80 bol. Lancei minha mochila no alto da van (a contra-gosto, confesso. Tava morrendo de medo dela cair no meio da viagem e eu ficar sem nada) e fui. Olhei o mapa que eu tinha conseguido em Santa Cruz e falei: “señor, quiero bajar acá”, apontando para a Plaza san Francisco. De lá, comecei a andar em busca dos hotéis e albergues. Minha intenção era pesquisar por vários e depois escolher o que se encaixa$$e melhor. Mas devido ao ar rarefeito, aliado à mochila nas costas, que me faziam parar a cada dois passos, fiquei no primeiro hotel que visitei.
§ Até o quinto dia da viagem, passei muito mal por conta da altitude. Muita dor de cabeça, enjôos e vômitos intermináveis, eu não conseguia dormir e comer nada. Nesses primeiros dias, estava totalmente sozinha. Conheci poucas pessoas nos tours (sim, eu fazia os tours passando mal mesmo; tinha pouquíssimos dias pra viagem!), e no final dos dias, voltava aos hotéis, onde ficava mal a noite toda. Na minha segunda noite tive que segurar o choro e a vontade de ligar pra minha mãe e dizer que eu estava desistindo e voltando pro Brasil.
§ Mas eu fui firme. Tinha desejado e sonhado tanto com esse mochilão... Depois desses dias de altitude sickness, as coisas começaram a melhorar. Me acostumei quase que totalmente à altitude (só sentia muito cansaço e falta de ar quando tinha que escalar, subir algum morro. E isso não aconteceu poucas vezes!), conheci pessoas maravilhosas e quase chorei por ter poucos dias de viagem!
§ Tive alguns perrengues, mas mochilão que é mochilão, tem que ter o seu. Alguns eu enfrentei sozinha, outros, com as pessoas que eu ia conhecendo. E agora posso rir deles e contá-los até com um certo orgulho.
§ A verdade é que mais que o fato de ter conhecido lugares e pessoas incríveis, essa viagem me fez conhecer um pouco mais de mim mesma. E na mesma medida em que sou bastante medrosa, sou corajosa suficientemente para enfrentar os meus medos e me entregar à vida. Posso ter cansado demasiadamente o meu corpo em alguns momentos. Mas a minha mente se renovava a cada passo. E eu amo isso!

sábado, 30 de agosto de 2008

§ Vamos ter um jogo da seleção masculina de futebol no... Engenhão!!
§ Minha pergunta é: por quê? Por que, se o maracanã tem praticamente o dobro de capacidade, o que beneficiaria mais pessoas a verem a seleção jogar por aqui, coisa que raramente acontece?
§ Tudo bem que os nossos homens vêm apresentando um futebol sem brilho e sem raça nos últimos anos, que não nos incentiva muito a querer assistir a um jogo deles. Eu não sei vocês, mas eu não consigo mais torcer pra eles.
§ Mas o motivo de revolta que quero expôr aqui é o da "politicagem". O jogo vai ser no engenhão só pra fingir que ele é muito útil, e as nossas vidas melhoraram da água pro vinho depois de sua construção.
§ Eles alardearam para todos os cantos que os jogos pan-americanos no Rio foram um sucesso, um exemplo de organização, que marcou época, blábláblá e abobrinhas, mas esqueceram de dizer à população que a principal função desses mega eventos é o benefício que eles nos trazem APÓS o acontecimento, e não durante.
§ O projeto do metrô nunca saiu do papel, a dengue castigou mais uma vez, o trânsito está cada vez mais caótico e a violência... isso eu nem vou comentar...
§ Mas no meio de tudo isso, nos ficou o engenhão, esse sim muito útil. Afinal de contas, o nosso maraca querido não estava mais conseguindo comportar a enorme torcida carioca, que em dias de clássico vasco x fluminense lotava o estádio com o número impressionante de 20 mil pessoas!
§ Agora querem trazer os jogos Olímpicos pra cá também. E já começaram a especular pela milionésima nona vez sobre a linha 3 do metrô...
§ Esse é o nosso Brasil.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Falando nisso...

§ Depois de escrever o último texto, me veio à cabeça um fato ocorrido no meu ensino médio, mais precisamente no 1º ano. Por ser muito medrosa, nunca fui adepta da difusão facilitada, e acreditava no aforismo “quem cola engana a si próprio”.
§ ...Mas eu estava no último bimestre, fazendo a prova de psicologia, na qual precisava de 6,0 para passar. Pelos cálculos que eu tinha feito em cima da pontuação de cada questão, eu iria tirar 5,5 ou 5, o que me deixou desesperada. A apostila de psicologia era muito grossa e maçante, e eu não tinha lido nem a metade dela. Ou seja, eu estava impossibilitada de responder as questões que ainda faltavam e minha nota ficaria naquilo mesmo. Uma amiga minha estava sentada atrás de mim, colando da minha prova.
§ Eu já tinha visto uma borracha passar pela mão de todo mundo na sala, mas como era muito inocente (velhos tempos...), nem tinha me tocado de que aquilo era uma super proteína. Eu acho que essa amiga que estava colando de mim deve ter percebido que eu estava precisando de ajuda e falado a alguém, pois todo mundo sabia que eu não colava e do nada, uma colega que estava ao meu lado me estendeu o braço e, entregando-me umA borracha, pronunciou “valeu pela borracha Sara!”.
§ Quando olhei, lá estava, escrita na borracha, uma das respostas que eu ainda não tinha. Meu Deus! Como fiquei nervosa! Meu coração estava disparado, eu suava sem parar. Estava tensa, me sentindo uma agente numa missão, como naqueles filmes em que o espião está procurando algo em uma sala e ouve o inimigo chegar à porta. Eu copiei a questão (que era o número de uma lei) e devolvi a borracha, que foi passada à frente. Ainda estenderam a prova pra mim, pra eu copiar uma outra resposta.
§ Saí da sala tremendo, achando até o último segundo de caminhada rumo à porta, que a professora iria me chamar e me dar um esporro por eu ter colado. Só que isso era praticamente impossível, porque ela era extremamente lerda (a tanto que tinha gente colando na cara, exatamente na cara dela!).
§ Depois que passei da porta e fiquei livre do alcance dela, comecei a tremer mais ainda, de alívio. Logo em seguida fui tomada por uma euforia. Eu tinha colado e aquilo foi super emocionante – Sempre gostei de aventuras!
§ Eu estava seriamente pensando em me entregar à vida da difusão facilitada, quando a menina que tinha passado a cola na borracha pra todo mundo, fechando a apostila, falou com um risinho de “não acredito”: "#$%&*! Copiei o número errado".
§ Com exceção de 3 pessoas que acreditavam que a osmose era ainda o melhor jeito de se “passar de ano”, toda a sala colocou a mesma resposta errada na prova. Graças a Deus eu consegui nota suficiente para passar direto e não precisei fazer a prova final, me safando assim de ver a cara da mulher outra vez. Mas preferi encarar aquilo como um sinal divino, de que a difusão facilitada pode é complicar em muito a nossa vida.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Osmose x Difusão facilitada


§ Há duas maneiras para se “passar de ano”: a osmose - mais digna, e a difusão facilitada - mais recorrida por boa parte dos alunos.

§ Na osmose a gente estuda, ou pelo menos tenta prestar atenção nas aulas para ver se a nossa cabeça absorve alguma coisa. Esperamos que o aprendizado / conhecimento passe do meio hipertônico (nossos professores) para o hipotônico (nossas caixolas), fazendo das nossas provas um agradável meio isotônico. E se a gente não tiver estudado, tampouco prestado a devida atenção às aulas, apelamos ao milagre divino, com vistas a uma osmose sobrenatural.

OBS: Ressalta-se que nem sempre os professores estão em um meio hipertônico em relação ao nosso.

§ Na difusão facilitada, nos utilizamos de certas proteínas (que podem ser uns papeizinhos com letras em tamanho 5/6 escondidos no estojo ou nas pernas, ou também um amiguinho estudioso) para facilitar a passagem das moléculas que, por osmose, demorariam muito tempo para atravessar a membrana do nosso cérebro, garantindo-nos uma nota azul.

2º OBS: Se a situação estiver sinistra, recorremos a um amiguinho não muito estudioso (carboidrato) mesmo. Não tem problema! Vale tudo para escrever alguma coisa na prova quando o nervosismo não nos deixa pensar em uma besteira sequer e a nossa capacidade de encher lingüiça parece ter fugido para o espaço!

domingo, 17 de agosto de 2008

Quando eu encontrei a cidade perdida...


§ Acordei às 5:00am, me arrumei e fui tomar o café da manhã. Desde às 18h do dia anterior faltava luz em Águas Calientes. Tudo era breu, não enxergava nada. Fui tremendo de medo até o ponto dos microônibus, que por sorte, era próximo ao meu hotel. Às 5:40am eu já estava dentro do veículo, pensando que dali a poucos minutos estaria finalmente vendo a incrível cidade perdida dos incas, Machupicchu.

§ Machupicchu é um pouco mais baixa que Cusco e as cidades bolivianas, e como já fica no início do que é a floresta Amazônica, lá não faz tanto frio. Mas como ainda era muito cedo e estava chovendo (coisa incomum nessa época do ano), fazia um friozinho e todos estavam encasacados. Encasacados e com a cara amassada, os olhos vermelhos de sono, porém muito abertos, atentos a tudo, todos os detalhes. Após várias curvas foi possível avistar um pedacinho da cidade. Todas as cabeças esticadas, olhando para a mesma direção. Todos em silêncio, compartilhando uma cumplicidade mútua. Os olhos de desconhecidos se cruzavam e sorriam. Parecia que todos podiam ler os pensamentos alheios, porque todos estavam pensando a mesma coisa.

§ Chegamos à base de entrada, parecia que havia um milhão de pessoas lá. Mal sabia eu (quer dizer, até sabia, mas não pensei nisso no momento) que a massa turística chegaria após meio-dia, e aí sim aquele lugar ficaria superpovoado. Por enquanto éramos os privilegiados.

§ Encontrei o meu guia, começou a divisão das pessoas que falavam espanhol e inglês. O mais engraçado é que os gringos (tá, eu também era gringa lá) todos queriam ficar nos grupos de espanhol. Gritavam revoltados “yo hablo español!”. Eu até me ofereci pra ficar no grupo de inglês, mas depois que me dei conta de que estava no meio de um pequeno grupo de velhos é que entendi porque tanta gente começou a “hablar español” da noite pro dia. Obviamente voltei correndo para o grupo dos meus “conterrâneos latinos”.

§ A visita começou por volta das 6:30am. Logo na entrada só podemos ver o lado direito de MP. O guia começou a explicar a história do lugar e a apontar para as montanhas. De repente, pediu que nos virássemos à direção contrária de MP e olhar para o alto. Lá em cima, vários pontinhos se mexendo, com uns flashes eventualmente. Eram as pessoas que chegavam da trilha inca. Existem várias trilhas, mas a principal e mais procurada dura 3 dias. As pessoas caminham o dia inteiro e só descansam à noite. Fiquei pensando na satisfação que elas estavam tendo, depois de todo aquele cansaço, aquelas caminhas e subidas intermináveis, aquela chuva pra piorar a situação, um frio do caramba durante as madrugadas, depois de tudo isso, elas estavam chegando e avistando lá de longe a cidade perdida, da mesma maneira que os incas faziam 500, 400 anos atrás. Acho que esse foi o único momento em que desejei de verdade (com uma certa pontada de tristeza no peito) ter feito a trilha inca.

§ Depois disso, pegamos uma subidinha para chegar ao local de onde se tem a vista clássica de MP. Uma subidinha de menos de 5 minutos, mas que quase me matou de falta de ar. Foi então que avistei aquela cena de foto. Todos com as câmeras na mão, os viajantes alternativos se transformaram em turistas japoneses. Mal iniciamos a visita dentro da cidade e voltou a chover. Começamos a passar por aquelas construções, tudo tão incrível. Eu passava a mão em todas as pedras, imaginando como seriam as pessoas que também já passaram as mãos por elas. Os incas que carregaram aquelas pedras para construir a cidade, os incas que lá viveram, os nativos que já conheciam MP há bastante tempo, o Bingham quando a “descobriu” (e depois roubou tudo e mandou pra Yale, o desgraçado!!), as milhares de pessoas que já estiveram por lá e passaram as mãos nas pedras, imaginando as pessoas que já tinham feito isso antes...

§ De repente, o portal onde o Che Guevara sacou aquela foto também clássica. “Che Guevara took a picture here”. Por que eu fui falar isso pra gringaiada?? Criei um congestionamento gigantesco, todo mundo queria ter uma foto ali também.

§ Às 8:30am a visita acabou e o guia nos liberou pra ir pra fila do Wayna Picchu. Deve ter sido por causa da chuva, poucas pessoas arriscaram subir. A fila, que geralmente é gigantesca, se resumia a uns 15 gatos pingados. Nesse caso, gatos encharcados. Eu era a quinta da fila, atrás de 4 argentinos, que subiram comigo. Todo mundo na chuva, e a única menina do grupo que era baixinha (todos eram grandes – vamos dominar o mundo!) lembrou que tinha uns sacos de lixo, que poderíamos usar como capa de chuva. Ela começa a sacar os sacos da mochila, todos na expectativa, e quando vemos, eram uns sacos minúsculos! Tivemos uma crise de riso. Ela começou então a rasgar os sacos, amarra aqui, amarra lá, nossas capas de chuva estavam prontas.

§ Nós cinco fomos liberados pra subir às 8:55am. Vou contar pra vocês, não foi fácil não. A chuva piorou tudo. Muita lama, escorregávamos toda hora. As subidas eram íngremes e estreitas. O cansaço era muito grande e a minha bronquite deu o ar graça. A minha respiração era a mais pesada de todas, podia ser ouvida à distância. Todo mundo ficava preocupado e eu tinha que parar toda hora pra respirar. Eu mesma estava com medo de ter um pirepaque ali.

§ Às 9:30am parou de chover, mas a lama ainda atrapalhava bastante e as pedras continuavam escorregadias. Depois de muito tempo chegamos à primeira parte do pico, onde tirei a foto mais comentada do meu orkut (hahaha). Ali começavam as ruínas do Wayna Picchu, e aparentemente, essa segunda parte do caminho, que era bem menor, seria mais fácil. Ledo engano. Não tinha mais mato e lama, mas em compensação, tivemos que escalar umas pedras, nos meter em caverninhas (eu tenho uma “quase-claustrofobia”, e por pouco não desisti quando entramos em uma caverna e tivemos que nos arrastar para sair dela, pois era muito estreita), rolou até uma escadinha de madeira carcomida caindo aos pedaços.

§ Finalmente chegamos ao topo. Não é um espaço plano. Na verdade são várias pedras gigantes e todos têm que encontrar um lugar pra se encaixar, todo mundo se ajuda, se espreme. Depois que me alojei e vi a paisagem, percebi que tinha valido tudo a pena. A viagem tinha valido a pena. De um lado, MP pequena, um condor. Do outro lado, só mato, e mato e mato; o início da floresta Amazônica (essa parte peruana parece mais a mata Atlântica). Lá embaixo, o rio Urubamba, de um verde lindo e que contorna a montanha onde fica MP. Nessa hora a chuva já tinha parado completamente e o sol já estava aberto, iluminando a tudo e todos. Nessa hora também já estava todo mundo sem casaco, sentindo um calor do caramba, e eu super arrependida de ter ido com aquela blusa branca por baixo. Nessa hora eu ainda estava discutindo futebol com os argentinos, levando um casal de peruanos às gargalhadas.

§ Ficamos uns 30 minutos lá em cima, apreciando a paisagem. Fiquei meio encucada com a quantidade de pessoas com “idade mais avançada” que vi por lá. De onde elas surgiram?? Devem ter começado a subr às 6:00am, só pode!

§ Decidimos então descer. Essa parte foi menos cansativa, só que também, bem mais perigosa. Pra começar, a descida era feita pelo outro lado, onde havia uma pedra lisa gigante, tipo um tobogã. Essa pedra dava numa faixa de terra estreita, que dava num precipício. O esquema era esse mesmo, escorregar nessa pedra super inclinada, sem ter nenhum lugar pra encaixar o pé e a mão (já que ela era lisinha, lisinha), e com o maior cuidado, pra não passar direto da faixa de terra e cair no precipício (isso já aconteceu, e conheço uma pessoa que viu ao vivo e a cores).

§ Até então, esse foi o segundo momento mais tenso do Wayna Picchu pra mim. Bateu um desespero, todo mundo desceu, eu fiquei lá por cima e os meus olhos encheram d’água. Pensei em voltar sozinha pelo outro lado e encontrar o pessoal lá no primeiro pico, mas todo mundo começou a gritar lá de baixo que eu conseguiria, que não era tão ruim quanto parecia. Além disso, como o sol já estava forte, várias pessoas tinham começado a subir, e esse caminhozinho de volta alternativo era justamente pras pessoas não se trombarem.

§ Encarei meu medo, e comecei a deslizar pela pela. Foi um sufoco, mas bem menos pior do que parecia lá de cima. A tranqüilidade voltou e continuamos a descer. Agora era a vez de umas escadinhas que beiravam o precipício. Meti o pé no primeiro degrau e começou uma gritaria. Uma mulher tinha escorregado e caído lá na frente. Na hora, nós que estávamos lá trás e não conseguíamos ver nada, pensamos logo que ela tinha caído no precipício. Foi um desespero, meus olhos cheios d’água novamente. Todo mundo parou onde estava, não havia espaço. Depois de alguns minutos descobrimos que ela tinha escorregado, mas caiu nos degraus mesmo, graças a deus. Conseguiram puxá-la pra cima de uma terraça, pra prestar os primeiros socorros e abrir caminho. Começamos então a descer. Lembro de ter visto muito sangue nos degraus, e quando olhei pra terraça, ela estava com um corte imenso na cabeça. Demos as nossas águas pra lavarem o rosto dela, e o meu argentino lindo ficou lá, pra ajudar a carregá-la.

§ Continuamos a descer. Novamente aquela lama, aquelas pedras soltas. Todo mundo praticamente engatinhando. Eu escorreguei umas duas vezes. Pra piorar, como já tinha muita gente subindo e o caminho era estreito, várias vezes tivemos que nos agarrar às pedras pra deixar as pessoas passarem.

§ Foi tudo bem sinistro, mas valeu a pena. Pra mim, o melhor momento da viagem, sem dúvidas.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

§ Vou começar pela casa onde passei os primeiros anos da minha infância. Na verdade era um prédio em uma das ruas mais movimentadas de São Cristóvão, aquele bairro que fica bem na divisa da Zona Norte e do subúrbio, que também é Zona Norte, mas que o povo da Tijuca, de Vila Isabel e afins insiste em classificar como subúrbio só para se diferenciar e fingir que é a elite desse lado [mais caloroso] da cidade. Era um prédio pequeno; três andares e um apartamento por andar, com uma quitinete nos fundos.Eu morava no primeiro andar. Era um apartamento [que eu vou chamar de casa a partir da próxima vez, porque soa mais familiar e nostálgico] grande, com três quartos, um deles transformado em uma espécie de depósito pela minha mãe e que, em todo o tempo em que lá residi, só vi aberto umas quatro vezes. Aquele quarto era o meu objeto de desejo, era o porão ou o sótão que a gente vê nesses filmes, dos quais as crianças têm medo mas mesmo assim insistem em neles se aventurar. Eu também nutria sentimentos do tipo. Qualquer ruído ou coisa estranha pra mim provinha daquele lugar, porém o sonho de entrar ali era maior que o medo.Obviamente pelo fato de ter sido ali que eu inicialmente vivi, é de lá que tenho as primeiras recordações da minha vida: por volta dos dois anos, quando minha mãe me mandou jogar a chupeta na privada [e assim me livrar de uma vez daquele vício!] e o meu aniversário de três anos, quando compramos no supermercado Disco [que depois passou a se chamar Paes Mendonça e que hoje eu nem sei mais o que é] um bolo com glacê verde. Essas lembranças vêm até hoje à minha memória em forma de flashes. No andar de cima morava a “vovó Lourdes”, uma senhora que não tem ligação sangüínea alguma com minha família, mas que construiu comigo uma relação que deixa de lado todas essas leis da genética e se baseia no coração. Era ela quem me acalmava quando eu ainda era um bebê e tinha aquelas crises de choro. Era na casa dela que eu comia aqueles lanches e almoços da vovó e dividia com a Aline [ainda vou falar dela] um espaço naquela adorável cadeira de balanço de madeira escura. Ela também tinha uma filha, a Ana Cláudia, ou só Claudinha, uma moça com voz de desenho que tinha inúmeros casacos de pele e bolsas que eu queria usar nesse calor do Rio de Janeiro, e que ainda por cima foi minha primeira “professora de piano”. No último andar moravam o Sérgio, a Janete e a Aline, filha deles. Da Janete eu só lembro mesmo por fotos, porque ainda bem cedo ela teve um caso com o patrão, resultando no fim do casamento deles. Mas graças a Deus, a Aline ficou morando com o pai e se tornou assim, a minha primeira melhor amiga. Eu nasci e sete dias depois foi a vez dela de ver a luz desse mundo. Vivemos os nossos primeiros anos juntas e não lembro de termos tido essas briguinhas que todas as crianças têm. A gente contava até vinte e esse era o tempo que cada uma tinha pra desfrutar a cadeira de balanço da vovó Lourdes. Era um rodízio.A Aline tinha duas cachorras: a Sully, uma pequinês que [talvez até pelo fato de já estar meio velha] desprezava solenemente a nossa existência, e a Shana [não sei a raça; sou indouta nesses assuntos], que era gigantesca e diferentemente da outra, não podia nos ver que já vinha pulando em cima. Como o meu medo de cachorros vem desde a época em que o espermatozóide do meu pai se fundiu ao óvulo da minha mãe, prender a Shana era um ato pré-seqüente à minha entrada na casa deles. Mas também tenho boas recordações dessa cachorra, como em uma vez que ela se soltou e a Aline e eu tivemos que correr desesperadamente. Subimos até na mesa de jantar, o que não seria muito útil devido ao tamanho da cachorra. Mas isso deu tempo para o Sérgio prendê-la.Na casa ao lado direito do prédio morava a Marli, com a mãe, o marido e os dois filhos. Eles eram todos muitos simpáticos, e em uma das festas de um dos meninos, o bolo tinha o formato de um hambúrguer e todas as crianças fizeram uma roda pra cantar atirei o pau no gato. Pelo que lembro, essa foi a primeira das muitas vezes que eu parei pra me questionar o significado da musiquinha infantil, porque as únicas partes inteligíveis para mim eram o dona Chica e o miau. Na casa do outro lado morava uma família de cujos membros não recordo nomes. Só sei que a filha mais velha, mesmo com os seus 13 ou 14 anos, ainda chupava chupeta. O Natal e o Ano Novo todos nós passávamos juntos. Vinham outros membros de nossas famílias e amigos comemorar conosco. Era esplêndido. Aquela chusma de crianças quebrando nozes, lutando para ficar acordadas o máximo possível, correndo de um lado para o outro na garagem, e eu passando mal depois dos primeiros metros, por causa da minha bronquite.Hoje, olhando pela janela o princípio dessa noite nublada, que anuncia a chuva, eu penso, que saudade daquela época!