sábado, 11 de outubro de 2008

§ Eu planejei minha última viagem às pressas. Já tinha bastante tempo que eu desejava conhecer Machupicchu e o Salar de Uyuni, porém uns poucos meses antes d’eu sair de férias, não sabia exatamente para onde iria. Até que as outras alternativas babaram e eu tive certeza: vou mochilar na América do Sul.
§ A segunda certeza era a de que eu iria sozinha. Ninguém estaria de férias no mesmo período que eu, ninguém poderia passar tantos dias distante de suas atividades. Eu não me importei em ter que viajar sozinha, mesmo nunca tendo feito isso antes. Em momento algum bateu preocupação ou receio, apesar de quase todas as pessoas se horrorizarem quando eu falava dos meus planos.
§ Chegou então o aguardado dia. Eu não sei se foi porque eu tinha passado os últimos meses atolada com os trabalhos da faculdade e as dores de cabeça do trabalho (ou seja, sem tempo de pensar em nada, só sonhando com os “momentos bons” da viagem) ou se porque aeroportos têm um clima de despedida (mesmo quando você vai passar só um final de semana em São Paulo), só sei que foi no momento em que eu estava indo pra sala de embarque que o desespero bateu e eu não segurei o choro. Foi nesse momento que eu percebi a loucura que estava fazendo: eu não tinha planejado nada, não tinha reservas, mal tinha roteiro. E estava sozinha.
§ Comecei a chorar, aquele choro que a gente tenta prender a acaba ficando sem ar, piorando a situação. Minha mãe de longe falou pra eu não me preocupar, que daria tudo certo. Eu pensei em desistir, mas sabia que não podia. Eu não iria jogar assim tudo pro alto do nada. Eu sou extremamente medrosa, confesso. Mas sou incrivelmente corajosa também. Parece paradoxo, mas há muito tempo aprendi que medo e coragem não estão em extremos opostos. A coragem não é a ausência de medo, mas uma força pra enfrentá-lo.
§ Antigamente eu tinha medo de ir ao cinema sozinha (hoje não consigo entender o por quê!). Todo mundo achava um absurdo não ir acompanhado, então a gente sempre tinha que marcar com os amigos e os paqueras, mas eles sempre me deram bolos (literalmente) e eu deixei de ver na telona grandes filmes. Um dia me revoltei e decidi ir sozinha mesmo. Nada de mais, não morri de carência e ainda vi uma película super legal que, se dependesse dos outros, teria perdido. A partir disso, foram muitas idas ao cinema, teatro e até ao maracanã sozinha.
§ Pensei, esse mochilão é só um passo a mais. Sabia que muitas outras pessoas já tinham feito (e continuavam a fazer) a mesma coisa que eu iria começar. Então, naquele instante em que eu já estava sozinha, chorando na sala de embarque, falando com minha mãe ao telefone, porém sem vê-la (e saber que ela estava bem ali pertinho, do outro lado, doía mais ainda) eu decidi enfrentar mais aquele “medo”, deixar de lado os comentários atemorizados que eu ouvi (essas pessoas são umas fracas, é isso que são!) e me juntar ao grupo de pessoas que viajam sozinha com a mochila nas costas. E eu me juntei.

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