segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Praga

§ Eu costumo ser meio do contra. Quando todo mundo fica bajulando, endeusando demais uma coisa ou um ser, eu fico com o pé atrás mesmo. E assim foi com Praga. Como Budapeste, ela é a nova "moda" do Leste Europeu.

§ Mas a verdade é que Praga é mesmo isso tudo que dizem, e mais um pouco. A cidade é uma pérola.

§ Foi a única cidade da Europa onde eu estive completamente só. Eu sempre conhecia gente nos albergues, encontrava algum brasileiro que tinha conhecido na net. Às vezes eu passava o dia todo sozinha, mas à noite saía com alguém. Outras vezes passava o dia todo caminhando por ali com alguém, mas ia dormir mais cedo. Ou então passava o dia e a noita toda acompanhada. Tive momentos em companhia de mim mesma e momentos na companhia dos outros.

§ Em Praga não fiz uma amigo sequer. O albergue não era de festa e no meu quarto só tinha uns japoneses estranhos (todos os nipônicos, por mais legais que sejam, são estranhos), que só falavam entre eles, não me davam a mínima. E ficavam passando um creme estranho no rosto e circulando pelos corredores como se isso fosse normal (ou será que eu que sou neurótica demais por nunca ter coragem de fazer isso?)! Acho que a pessoa com quem mais troquei palavras na cidade foi um dos recepcionistas do hostel, quando ele me explicou onde ficava uma lavanderia. E eu, lerda que sou, ainda tive que voltar e perguntar de novo, porque andei, andei, andei e rodei, rodei e rodei e não encontrei o bendito lugar!

§ Enfim, apesar de ter ficado totalmente só nos 3 dias estive por lá, não lembro de ter me sentido sozinha. Foram tão agradáveis os meus momentos por lá. Foi tudo de uma paz tão grande, e cada esquina, cada prédio emanava tanta poesia que eu não tive tempo pra pensar na solidão.

§ O clima estava formidável: um solzinho e friozinho leves, que deixavam em evidência as cores da cidade, sem precisar circular carregando casacos. E as cores... a cidade é lindamente colorida. Mas não são cores fortes e vivas como as de Barcelona. São cores mais suaves, talvez até românticas. Cores que deram asas gigantes à minha já fértil imaginação. Quando eu penso nos meus dias lá, a primeira sensação que me vem à cabeça é a de sonho, a de estar caminhando nas nuvens.

§ Eu caminhei muito, comigo mesma. Admirando a arquitetura, as pontes, as placas quase indecifráveis, os nomes dos estabelecimentos (cabaret carioca e darling, I'll call you later)o rio, as árvores, o céu, os pássaros, os turistas. A parte central de Praga é abarrotada de turistas. Acho que é por isso que ela não me pareceu uma cidade tão real. Mas não me importei. Lembro até de uma cena fofa: numa lanchonete conheci 4 americanas com mais de 65 anos que estavam mochilando juntas e por conta própria. Uma gracinha as mocinhas abrindo o mapa, decidindo para onde ir e pedindo minha ajuda.

§ Lembro também que depois de andar muito eu fiquei em dúvida se ia ou não ao complexo do castelo. Eram quase 20h e eu não conseguiria mais visitar nada lá, mas pensei que talvez valesse a pena subir só pra observar a cidade, e no dia seguinte voltar cedo e conhecer tudo. Mas já estava escurendo, o lugar não estava mais tão cheio de turistas e fiquei com medo de ter que voltar sozinha depois. Pensei mais um pouco, eu já andei de madrugada sozinha por tantos lugares do Brasil e do mundo, não seria em Praga que eu teria medo.

§ Fui subindo as ladeiras calmamente (a bronquite sempre quer dar o ar da graça), olhando as milhares de marionetes de bruxinha nas vitrines. Vira aqui, vira ali, sobre mais um pouquinho e por fim, chego lá. Tenho que dizer que eu já estava encantada pela cidade, mas a visão que tive lá de cima foi magnífica. Fiquei boba mesmo. Foi aquele o momento de agradecer a Deus por estar naquele lugar (e é sempre nessas ocasiões simples que eu lembro de agradecer).

§ Também visitei os museus judaicos. Os ingressos mais caros da cidade. Pra tirar foto tinha que pagar (2 euros por cada foto. Tinha bastante gente tirando escondida, mas minha honestidade me impediu de fazer isso). Pra usar o banheiro tinha que pagar. Pra beber água tinha que pagar. E na saída havia uma caixa pra você deixar a $ua contribuição às instituições judaicas. Fiquei com vontade de deixar um bilhetinho malcriado, mas desisti.

§ E claro, também não poderia deixar de ir ao museu do Franz Kafka, uma das melhores coisas da cidade (claro, se você gostar do Kafka). Denso, escuro, sombrio, detalhista, introspectivo. Agoniantemente apaixonante.

§ Tem ainda o relógio astronômico. O elevador demorou um pouco e eu achei melhor subir a pé. Algumas gotas de suor depois eu estava lá em cima, desfrutando da paisagem e escutando a "guarda da torre" executar no trompete aquela musiquinha que nunca sai da minha cabeça. Lá embaixo você se infiltra na multidão de turistas pra ver o espetáculo dos 12 apóstolos como cuco do relógio, e tenta encontrar o esqueleto da morte (coisa que eu não consegui fazer... miopia?).

§ Não tem só isso, tem mais um montão de coisas. A cidade é linda, tanto de dia quanto de noite. Mas tudo que eu vou conseguir escrever aqui é sonho, cores, poesia, céu, paisagem, sonho...

§ Ah, Praga! Não me canso de te olhar!