domingo, 22 de fevereiro de 2009

Uyuni

§ A primeira impressão que eu tive de Uyuni, que algum tempo depois mostrou-se errada, era a de que ela parecia uma cidade meio fantasma, de faroeste. Só faltavam aquelas bolas de feno rolando de uma esquina à outra pra eu ter a certeza. Talvez essa impressão tenha sido causada pelo fato de que meu primeiro contato visual claro com o lugar se deu às 8:00am, em um dos dias mais frios do ano. Pra explicar isso, preciso voltar um pouco mais no tempo.
§ Eu tomei o trem que partia de Oruro para Uyuni às 7:00pm, e cheguei ao destino de madrugada. Já durante a viagem, eu, que sou extremamente calorenta e amo tempo frio, comecei a me tremer toda e parecia que ia congelar. E olha que estava vestida com uma segunda pele, uma blusa de manga comprida, um moletom e um casacão. Peguei os outros casacos da mochila e comecei a enrolar nas minhas pernas e nos braços, tentando amenizar a situação.
§ Eu não fiz reservas para hospedagem durante toda a viagem, mas Uyuni foi o único lugar onde isso me deixou assustada. Estava muito escuro e, principalmente, como já mencionei, fazia muito frio. Não havia uma viva alma fora da estação. Por conta disso, acabei aceitando o convite de hospedagem de uma das muitas pessoas que ficam pertubando nas saídas das rodoviárias e estações de trens bolivianas e peruanas.
§ Tomei um táxi com mais três portuguesas que já tinham viajado comigo de La Paz a Oruro (elas eram frescas e chatíssimas). O percurso foi mínimo; Uyuni é uma cidade minúscula, mas o frio era tanto que congelaríamos se fôssemos caminhando.
§ Logo na recepção fomos recebidas por uma menina que tinha uma cara super fechada, me senti bastante mal. Fui logo pro quarto, só tirei o tênis e me enfiei embaixo das cobertas. Dormi daquele jeito, sem trocar de roupa e sem escovar os dentes.
§ Como eu tinha poucos dias para voltar pra Santa Cruz, precisava começar o passeio do Salar do Uyuni na próxima manhã. Por isso, acordei às 7:00am, com a intenção comprar o tour em alguma agência. Fui ao banheiro e surpresa: a água estava congelada nos encanamentos! Enrolei um pouco e descolei uma água para lavar o rosto e escovar os dentes.
§ Foi então que eu saí e tive a primeira visão da cidadezinha. Eu era o único ser vivente na rua (o hotel ficava na avenida principal), passando o maior frio da minha vida. Fui caminhando e percebi que estava tudo fechado. Além de comprar o tour, eu precisa tomar o café da manhã. Continuei caminhando e encontrei um local. Ele me disse que eu poderia desayunar no mercado principal.
§ Cheguei lá e finalmente encontrei uma concentração, ainda que ínfima, de pessoas. Uma coisa é certa: é muito difícil encontrar um boliviano típico que seja simpático. Eles constantemente não respodem as suas perguntas e, quando o fazem, é com uma expressão tão feia e uma boca tão fechada, que não se consegue entender o que dizem. Conclusão: apesar do mercado ser pequeno, demorei um século até encontrar o lugar para comer.
§ Depois que comecei a beber o toddy, acompanhado por um pão com ovo, eu me lembrei porque estava evitando tomar chocolate quente na viagem: eles colocam apenas UMA colher de achocolatado no leite. E ai de você se pedir educadamente para pôr mais!
§ Terminado o café, fui atrás da agência para comprar o tour. Durante todo o mochilão eu pesquisei bastante antes de escolher uma agência, um albergue, um restaurante ou uma companhia viária. Mas em Uyuni foi tudo diferente, assim como no caso do hotel, fui direto para a Colque tours. Vários brasileiros tinham me falado super bem dela e, apesar de ser das mais caras, eu preferi não arriscar. Já depois de iniciado o passeio, eu descobri que a colque me enfiou no tour de outra agência. Enquanto eu tinha pago U$85, todos os outros pagaram U$60. Mesmo assim, não me arrependi. O povo do meu jipe era incrível. Tornamo-nos bons amigos.
§ Depois eu percebi que Uyuni não era ão fantasma assim. À tardinha é até um lugar bem movimentado, mas vê-se apenas uns poucos locais e uma multidão de mochileiros.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Histórias do povo

§ Além de ser amante de História, confesso também adorar historinhas num geral: histórias de amigos e de família, histórias quem se ouvem no metrô e em ônibus, histórias da internet. Eu sou capaz de ficar horas ouvindo e contando os absurdos que o povo fala.


§ Essa semana, uma em especial prendeu a minha atenção e me fiz rir um bocado. Uma amiga minha arranjou um peguete, que eu conheci algum tempo depois e que descobri ser quase meu vizinho.


§ Comprovei que esse peguete, apesar de simpático e gente fina, era meio maluco. Então ela me contou essa pérola. O fulaninho decidiu, ao lado de seus amiguinhos igualmente doidos, "invadir" um hotel aqui da orla e usar LSD por lá. Quando voltaram à rua, ele estava tão pirado que bateu em um policial que tentou abordá-lo. Com medo de ser preso, correu para a praia e entrou na água, tentando se esconder. Atenção para o detalhe: isso tudo de madrugada.

§ Um desses caras que trabalham fazendo esculturas na areia, viu a situação e ficou preocupado. Entrou na água para tirar o fulaninho e ainda foi agredido. Depois de muito sufoco conseguiu derrubá-lo na areia e chamou o corpo de bombeiros. Nisso, um dos amigos igualmente doidos apareceu e forneceu ao bombeiro o telefone da casa do nosso protagonista. A mãe e a irmã dele apareceram e o acompanharam até o pinel, onde o fulano passou um dia.
O mais engraçado é que um tempo depois, quando a minha amiga estava ficando com o fulano, enquanto eles passeavam pela praia, o tal do escultor os encontrou, reconheceu o doido e disse que só não revidoua agressão porque percebeu que o rapaz estava psicologicamente alterado.