segunda-feira, 13 de outubro de 2008

§ Antigamente eu tinha complexo de magreza e queria engordar a todo custo. Costumava dizer, “neste país, mulher só é bonita quando tem bunda grande e perna grossa, mesmo se for pura gordura”. Continuo acreditando nesse meu aforismo só que, alguns anos e também alguns quilos depois, eu quero agora emagrecer. No intuito de ganhar mais corpo eu comecei a comer exacerbadamente, porém toda a gordura adquirida passou bem longe da bunda e se concentrou na barriga (pança é um termo bem apropriado nesse atual estágio) e no rosto. Eu nunca fui magra-palito estilo modelo, mas também não era “gostosa”. Consegui engordar, que era o meu objetivo, mas continuo insatisfeita (e sem bunda, diga-se de passagem). Agora fico murmurando que estou gorda, obesa, não gosto de me ver sorrindo nas fotos porque o meu rosto fica mais redondo ainda.
§ A questão é que, como todos já sabem, uma pessoa nunca está satisfeita com o que tem, especialmente se a tal pessoa for do sexo feminino. Cabelo, roupas, pele, peso, altura, corpo, profissão, namorado, estilo de vida. Nós estamos sempre reclamando de tudo, querendo ser assim e assado.
§ Há um tempo eu estava conversando com uma amiga minha. Falávamos sobre como as mulheres da nossa geração já têm inculcadas e estabelecidas essas idéias de estudar bastante, ter uma profissão, se independente, casar e ter filhos mais tarde. Nós estamos nesse caminho, tanto por escolha própria quanto pela escolha dos outros. E foi aí que começou a insatisfação. Essa minha amiga tem uma amiga, mais ou menos da nossa idade, que abriu mão de toda essa independência para casar-se e ser mãe. A minha amiga estava meio triste; às vezes sentia-se só e lembrava da amiga dela com o marido e o filhinho, feliz da vida, amando e sendo amada. Essa tristeza não pertencia somente a ela. De vez em quando também me pego com esses pensamentos e até um certo desespero de ficar sozinha, sem filhos, sem constituir uma família. Nós estudamos, pensamos em mestrado e doutorado, mochilamos, fazemos intercâmbio, saímos sem prestar contas a ninguém (exceto nossos pais – não somos tão independentes assim), podemos tomar decisões sem a preocupação de que elas afetem a outras pessoas que estão diretamente ligadas a nós. Nós podemos fazer isso e mais um montão de coisas que essa amiga da minha amiga, por exemplo, não poderia fazer, e se fizesse, teria um grau de dificuldade bem maior. Mesmo assim estamos desesperadas porque não fazemos ou não temos certas coisas. Estamos desesperadas porque estamos sozinhas e (por enquanto) não temos perspectivas de casamento e filhos.
§ Essa é outra característica nossa: querer tudo ao mesmo tempo e agora. Aprendemos com a Física, dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço. Ou no nosso caso, o mesmo corpo não pode estar em lugares diferentes ao mesmo tempo. Não dá pra escalar o Everest com um bebê a tiracolo!
§ Mesmo tendo consciência disso, seguimos reclamando insatisfeitas. Essa amiga da minha amiga, por mais feliz que esteja com a família, também deve ficar triste de vez em quando, vendo as amigas a fazer várias coisas e atividades que ela não pode, porque tem que se dedicar a outras agora. A vida é assim, nunca se está satisfeito.

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