terça-feira, 2 de setembro de 2008


§ Esse mochilão pela Bolívia e Peru foi umas das melhores coisas que fiz na vida. Por tudo, até pelo fato de ter viajado sozinha. Várias pessoas disseram que eu era louca, e se eu for mesmo, agradeço a Deus, pois essa loucura me fez ver paisagens lindas, inóspitas, que eu acho que mesmo que eu tenha uma amnésia, nunca vou esquecer.
§Viajar sozinha de certa forma também elevou minha auto-estima e me fez confiar mais em mim mesma. Muitas pessoas que eu conheço, incluindo aí muitos marmanjões metidos a macho, não teriam coragem de passar por coisas que passei. Não foi fácil mesmo; por mais que a língua seja parecida, e eu tenha continuado aqui na América do Sul, eram outros países, diferentes do meu. Culturas diferentes, modos de vida de diferentes. E eu tava lá, com a cara, a coragem e a mochila nas costas.
§Fui sem fazer uma reserva sequer. O que eu sabia, era de relatos que tinha lido e informações que tinha buscado nos blogs e orkut. Todo mundo fazia planilhas no Excel, de gastos, de transportes, hospedagens, tours, lugares, deslocamentos, alimentação. Eu não fiz nada disso. A única coisa que eu tinha era uma folha A4, na qual eu tinha digitado os dias e a ordem dos lugares que eu iria visitar. Só isso, sem considerar gastos, meios de transportes, hospedagens, restaurantes, agências. E eu nem mexi nessa folha durante a viagem, porém a segui praticamente à risca, com a exceção de ter estendido em um dia o tempo em Cusco. Valeu a pena, a cidade é linda e agradabilíssima!
§ Então, eu chegava assim com a mochila nas costas e começava a perguntar, a descobrir. Assim que cheguei ao aeroporto de La Paz descobri que um táxi até a cidade me custaria uns 60 bol. Mas sou brasileira e não desisto; em meio aos milhões de taxistas me azucrinando, encontrei uma van que estava indo à cidade e me custaria a bagatela de 3,80 bol. Lancei minha mochila no alto da van (a contra-gosto, confesso. Tava morrendo de medo dela cair no meio da viagem e eu ficar sem nada) e fui. Olhei o mapa que eu tinha conseguido em Santa Cruz e falei: “señor, quiero bajar acá”, apontando para a Plaza san Francisco. De lá, comecei a andar em busca dos hotéis e albergues. Minha intenção era pesquisar por vários e depois escolher o que se encaixa$$e melhor. Mas devido ao ar rarefeito, aliado à mochila nas costas, que me faziam parar a cada dois passos, fiquei no primeiro hotel que visitei.
§ Até o quinto dia da viagem, passei muito mal por conta da altitude. Muita dor de cabeça, enjôos e vômitos intermináveis, eu não conseguia dormir e comer nada. Nesses primeiros dias, estava totalmente sozinha. Conheci poucas pessoas nos tours (sim, eu fazia os tours passando mal mesmo; tinha pouquíssimos dias pra viagem!), e no final dos dias, voltava aos hotéis, onde ficava mal a noite toda. Na minha segunda noite tive que segurar o choro e a vontade de ligar pra minha mãe e dizer que eu estava desistindo e voltando pro Brasil.
§ Mas eu fui firme. Tinha desejado e sonhado tanto com esse mochilão... Depois desses dias de altitude sickness, as coisas começaram a melhorar. Me acostumei quase que totalmente à altitude (só sentia muito cansaço e falta de ar quando tinha que escalar, subir algum morro. E isso não aconteceu poucas vezes!), conheci pessoas maravilhosas e quase chorei por ter poucos dias de viagem!
§ Tive alguns perrengues, mas mochilão que é mochilão, tem que ter o seu. Alguns eu enfrentei sozinha, outros, com as pessoas que eu ia conhecendo. E agora posso rir deles e contá-los até com um certo orgulho.
§ A verdade é que mais que o fato de ter conhecido lugares e pessoas incríveis, essa viagem me fez conhecer um pouco mais de mim mesma. E na mesma medida em que sou bastante medrosa, sou corajosa suficientemente para enfrentar os meus medos e me entregar à vida. Posso ter cansado demasiadamente o meu corpo em alguns momentos. Mas a minha mente se renovava a cada passo. E eu amo isso!

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