quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Happy birthday to...me

§ Mais um aniversário. Eu não gosto muito de fazer aniversário. Tudo bem, tem o lado bom: tanta gente morrendo, sendo lançada da janela, sendo assassinada pelo namorado doente e eu aqui, vivendo mais um aninho. Não dá pra ser ingrata; tenho que agradecer a Deus!
§ Mas fazer aniversário também me deixa um pouco deprimada. Penso que é porque eu faço parte de uma geração que quer abraçar o mundo, quer tudo ao mesmo tempo e agora. Então ao completar mais um ano eu lembro das coisas que eu tinha planejado para fazer no ano que passou e que não consegui realizar. E elas estão se juntando ao monte de tantas outras coisas dos anos anteriores...
§ Quando penso por um lado, à medida que estou crescendo (pra não usar o deprimente 'envelhecendo') estou ficando mais madura, mais esperta, mais confiante. Isso é muito bom. Mas por outro ângulo, quando eu era novinha, achava que com essa idade eu já seria adulta, gente grande. Grande eu sou mesmo, porém continuo a mesma criança dos 12, 14 anos.
§ Eu evoluí em muitos sentidos. Fiz coisas e me tornei uma pessoa que até há alguns anos não poderia nem imaginar. Em outros aspectos, continuo fazendo burradas. Analisando rapidamente minha vida, as maiores burradas que fiz foram exatamente as que deixei de fazer.
§ Pra algumas coisas eu sou super corajosa, independente e decidida. Porém para as mais banais, continuo sendo medrosa e extremamente (e desnecessariamente também) racional. Essas coisas banais podem ser traduzidas como a minha vida sentimental. A verdade é que eu tenho muito medo de me machucar, e às vezes não consigo entender por quê... Acho que essa é a área que mais preciso melhorar. Tenho que arrisacar mais. Se eu quebrar a cara, e daí? Se eu quebrar o coração, e daí? Super bonder existe pra isso: juntar os pedacinhos e colar tudo.
§ É arriscando que eu vou ter histórias pra contar, momentos pra recordar e conteúdo pra preencher as páginas do meu livro. E mesmo se a burrada for muito grande, tenho que lembrar que os dias sempre mudam, sempre se renovam. O próximo dia vai ser novinho, pra eu fazer tudo diferente. É a misericórdia de Deus, nos dando uma nova chance todos os dias.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

§ Antigamente eu tinha complexo de magreza e queria engordar a todo custo. Costumava dizer, “neste país, mulher só é bonita quando tem bunda grande e perna grossa, mesmo se for pura gordura”. Continuo acreditando nesse meu aforismo só que, alguns anos e também alguns quilos depois, eu quero agora emagrecer. No intuito de ganhar mais corpo eu comecei a comer exacerbadamente, porém toda a gordura adquirida passou bem longe da bunda e se concentrou na barriga (pança é um termo bem apropriado nesse atual estágio) e no rosto. Eu nunca fui magra-palito estilo modelo, mas também não era “gostosa”. Consegui engordar, que era o meu objetivo, mas continuo insatisfeita (e sem bunda, diga-se de passagem). Agora fico murmurando que estou gorda, obesa, não gosto de me ver sorrindo nas fotos porque o meu rosto fica mais redondo ainda.
§ A questão é que, como todos já sabem, uma pessoa nunca está satisfeita com o que tem, especialmente se a tal pessoa for do sexo feminino. Cabelo, roupas, pele, peso, altura, corpo, profissão, namorado, estilo de vida. Nós estamos sempre reclamando de tudo, querendo ser assim e assado.
§ Há um tempo eu estava conversando com uma amiga minha. Falávamos sobre como as mulheres da nossa geração já têm inculcadas e estabelecidas essas idéias de estudar bastante, ter uma profissão, se independente, casar e ter filhos mais tarde. Nós estamos nesse caminho, tanto por escolha própria quanto pela escolha dos outros. E foi aí que começou a insatisfação. Essa minha amiga tem uma amiga, mais ou menos da nossa idade, que abriu mão de toda essa independência para casar-se e ser mãe. A minha amiga estava meio triste; às vezes sentia-se só e lembrava da amiga dela com o marido e o filhinho, feliz da vida, amando e sendo amada. Essa tristeza não pertencia somente a ela. De vez em quando também me pego com esses pensamentos e até um certo desespero de ficar sozinha, sem filhos, sem constituir uma família. Nós estudamos, pensamos em mestrado e doutorado, mochilamos, fazemos intercâmbio, saímos sem prestar contas a ninguém (exceto nossos pais – não somos tão independentes assim), podemos tomar decisões sem a preocupação de que elas afetem a outras pessoas que estão diretamente ligadas a nós. Nós podemos fazer isso e mais um montão de coisas que essa amiga da minha amiga, por exemplo, não poderia fazer, e se fizesse, teria um grau de dificuldade bem maior. Mesmo assim estamos desesperadas porque não fazemos ou não temos certas coisas. Estamos desesperadas porque estamos sozinhas e (por enquanto) não temos perspectivas de casamento e filhos.
§ Essa é outra característica nossa: querer tudo ao mesmo tempo e agora. Aprendemos com a Física, dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço. Ou no nosso caso, o mesmo corpo não pode estar em lugares diferentes ao mesmo tempo. Não dá pra escalar o Everest com um bebê a tiracolo!
§ Mesmo tendo consciência disso, seguimos reclamando insatisfeitas. Essa amiga da minha amiga, por mais feliz que esteja com a família, também deve ficar triste de vez em quando, vendo as amigas a fazer várias coisas e atividades que ela não pode, porque tem que se dedicar a outras agora. A vida é assim, nunca se está satisfeito.

sábado, 11 de outubro de 2008

§ Eu planejei minha última viagem às pressas. Já tinha bastante tempo que eu desejava conhecer Machupicchu e o Salar de Uyuni, porém uns poucos meses antes d’eu sair de férias, não sabia exatamente para onde iria. Até que as outras alternativas babaram e eu tive certeza: vou mochilar na América do Sul.
§ A segunda certeza era a de que eu iria sozinha. Ninguém estaria de férias no mesmo período que eu, ninguém poderia passar tantos dias distante de suas atividades. Eu não me importei em ter que viajar sozinha, mesmo nunca tendo feito isso antes. Em momento algum bateu preocupação ou receio, apesar de quase todas as pessoas se horrorizarem quando eu falava dos meus planos.
§ Chegou então o aguardado dia. Eu não sei se foi porque eu tinha passado os últimos meses atolada com os trabalhos da faculdade e as dores de cabeça do trabalho (ou seja, sem tempo de pensar em nada, só sonhando com os “momentos bons” da viagem) ou se porque aeroportos têm um clima de despedida (mesmo quando você vai passar só um final de semana em São Paulo), só sei que foi no momento em que eu estava indo pra sala de embarque que o desespero bateu e eu não segurei o choro. Foi nesse momento que eu percebi a loucura que estava fazendo: eu não tinha planejado nada, não tinha reservas, mal tinha roteiro. E estava sozinha.
§ Comecei a chorar, aquele choro que a gente tenta prender a acaba ficando sem ar, piorando a situação. Minha mãe de longe falou pra eu não me preocupar, que daria tudo certo. Eu pensei em desistir, mas sabia que não podia. Eu não iria jogar assim tudo pro alto do nada. Eu sou extremamente medrosa, confesso. Mas sou incrivelmente corajosa também. Parece paradoxo, mas há muito tempo aprendi que medo e coragem não estão em extremos opostos. A coragem não é a ausência de medo, mas uma força pra enfrentá-lo.
§ Antigamente eu tinha medo de ir ao cinema sozinha (hoje não consigo entender o por quê!). Todo mundo achava um absurdo não ir acompanhado, então a gente sempre tinha que marcar com os amigos e os paqueras, mas eles sempre me deram bolos (literalmente) e eu deixei de ver na telona grandes filmes. Um dia me revoltei e decidi ir sozinha mesmo. Nada de mais, não morri de carência e ainda vi uma película super legal que, se dependesse dos outros, teria perdido. A partir disso, foram muitas idas ao cinema, teatro e até ao maracanã sozinha.
§ Pensei, esse mochilão é só um passo a mais. Sabia que muitas outras pessoas já tinham feito (e continuavam a fazer) a mesma coisa que eu iria começar. Então, naquele instante em que eu já estava sozinha, chorando na sala de embarque, falando com minha mãe ao telefone, porém sem vê-la (e saber que ela estava bem ali pertinho, do outro lado, doía mais ainda) eu decidi enfrentar mais aquele “medo”, deixar de lado os comentários atemorizados que eu ouvi (essas pessoas são umas fracas, é isso que são!) e me juntar ao grupo de pessoas que viajam sozinha com a mochila nas costas. E eu me juntei.