sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Cinderella's tale

§ O pri­ncipe começou sua busca desesperada a fim de encontrar a dona daquele sapatinho de cristal. Procurou em todas as casas do reino, mas não estava sendo bem sucedido. Depois de ter calçado o sapatinho em 90% das moças, finalmente chegou à casa da Cinderella. Ela foi terminantemente proibida por sua madrasta de entrar à sala enquanto o prí­ncipe Encantado estivesse no aposento. A coitadinha então passou a espreitar tudo pela porta da cozinha. Ela estava em estado de êxtase. Aquele sapatinho lhe pertencia e, logo que o prí­ncipe tivesse terminado de calçá-lo nas suas irmãs, Cinderella correria ao seu grande amor para se oferecer a experimentar o bendito calçado. Pronto! Estaria tudo acabado. Ela se casaria com o príncipe e não estaria mais sujeita às humilhações da madrasta e das irmãs. O término de seu sofrimento era questão de alguns minutos. “Elas vão ver! Vão se arrepender quando eu me tornar a rainha deste lugar! Não perdem por esperar: Cinderella Encantado!”
§ O prí­ncipe calçou o sapato na primeira das irmãs; mas o pé da mesma era por demais grande e não coube. Cinderella, que estava escondidinha observando a cena, soltou um riso contido, próprio de alguém que está prestes a ver seu adversário “quebrar a cara”. O príncipe se dirigiu entãoo à outra moça da sala. Prostrou-se diante dela, enfiou-lhe o sapato no pé e (como assim?!?!) ele lhe coube! Foi uma choradeira entre a madrasta e suas filhas. Ali estava a futura rainha do reino! O prí­ncipe estava numa felicidade que só vendo; finalmente tinha encontrado a donzela do baile por quem estava enamorado.
§ Cinderella não pôde acreditar naquilo. Ela, que estava encostada à parede, deslizou até o chão, atônita. Quando se deu conta de que continuaria sendo a empregada da casa, continuaria sendo humilhada, que sua angústia não teria fim, desesperou-se a chorar. Rolava pelo chão derramando lágrimas, se lastimando por tamanha má sorte. Foi interrompida pela madrasta que penetrou a cozinha para ordenar-lhe que fosse arrumar as coisas da irmã, pois a mesma estava de partida para o castelo. “O mundo é muito injusto”, pensou Cinderella. Foi então que percebeu que a metralhadora que seu falecido pai guardava no sótão finalmente seria profí­cua.
§ “O SAPATO É MEU!!!”. Foi com esse grito que ela apresentou-se aos que estavam na sala. Depois disso só se ouviram os tiros. O prí­ncipe recebeu 3 balas na cabeça. “Estúpido! Como pôde confundir meu lindo e delicado pé com o perebento da minha irmã??”.
§ É claro que em decorrência disso Cinderella foi presa. Aliás, condenada à prisão perpétua. Mas conseguiu fugir e dizem que hoje vive com uma tal de Nazaré Tedesco (são lésbicas). As duas andam aprontando suas maldades por aí. Então, tome muito cuidado! Você pode ser a próxima vítima...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Bolívia II

§ Todos sabem, alguns presidentes sul-americanos estão reunidos agora no Chile para discutir a crise boliviana e apoiar Evo Morales. Como sou apaixonada pela América Latina, especialmente por essa nossa parte sul, não posso deixar de acompanhar e escrever (numa tentativa de desabafar a angústia que me aflige) sobre esse assunto.
§ Não pesquisei e por isso não tenho fontes para provar que o que eu penso é verdade, mas acredito que dos países da América do Sul, a Bolívia seja o que tenha a maior influência e população indígenas. Mesmo assim, sempre teve presidentes brancos, elitistas. O penúltimo, aliás, falava espanhol com um fortíssimo acento estadunidense. Isso me lembra o apartheid na África do Sul. Depois de muito tempo, a majoritária população indígena conseguiu eleger um dos seus.
§ Diferentemente do Brasil, a Bolívia não é uma república federativa. Quem lê isso deve até saber melhor que eu (quero deixar bem claro que não entendo muito de política, o que sei é de uma maneira muito crua, sem muita forma): numa federação, os estados que constituem uma nação são autônomos. Isso quer dizer que, por exemplo, tudo de riqueza que o estado do Rio de Janeiro produzir, seja através do petróleo, das indústrias ou do comércio, vai ser aplicado no próprio estado do RJ. É claro que os estados pagam impostos ao governo central federal, mas o dinheiro do RJ não vai ser diretamente aplicado na saúde ou na infra-estrutura do Acre.
§ Na Bolívia os estados não são autônomos (e é isso que eles buscam no momento, gerando essa crise). Então o Evo Morales estava usando a riqueza dos estados mais ricos e aplicando nos estados mais pobres. Usando o dinheiro da elite branca em prol dos campesinos indígenas.
§ Isso é muito bonito, muito nobre. Tudo o que a gente estudou sobre o comunismo / socialismo: distribuir a renda, gerar a igualdade num dos países mais pobres da América Latina. Mas infelizmente a realidade capitalista não funciona assim. Esses estados mais ricos têm o direito de ver a riqueza que produzem revertida em benefício próprio. Evo Morales está implantando uma ditadura para tentar se impor ( e sejamos realistas, de que outra maneira ele conseguiria?), seguindo os passos do Chavez, culpando os EUA por tudo (e é QUASE tudo) em vez de buscar soluções. URSS, Cuba, China já nos provaram que esse não é o caminho certo.
§ Eu nem sei mais o que ou quem é o certo. A única coisa que sei é que a situação daquele povo precisa mudar. Aquela miséria, aquela pobreza, os baixos indíces sociais.
§ Eu só quero que esse país que me proporcionou experiências tão incríveis, momentos inesquecíveis, me mostrou paisagens lindas e inóspitas que nunca sairão da minha mente, seja tão bom para o seu povo quanto foi pra mim.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Bolívia

§ Não sou a pessoa mais indicada para falar de política. Quase não tenho lido nem assistido aos noticiários. Mas quero deixar aqui algumas impressões minhas sobre a Bolívia e a sua crise.
§ Estive lá em junho e pude perceber claramente a divisão política do país. Em La Paz e nas outras cidades altas (e pobres) por onde passei, o apoio a Evo Morales era quase total. Em todas as partes há “pichações” e cartazes de apoio a ele e a população parece feliz de tê-lo na presidência. Pode até ter sido só uma impressão mesmo, mas me pareceu até que a estima daquelas cholas e daqueles outros bolivianos típicos tinha melhorado.
§ Já em Santa Cruz, que foi a única cidade da chamada meia lua (região mais rica do país) onde estive, Evo é odiado. Não encontrei um único ser que o apoiasse. Inclusive, no meu último dia lá o país estava ardendo por conta de um acontecimento: naquele mesmo dia à noite o Evo iria a Santa Cruz e de manhã haviam prendido dois sujeitos que portavam “armas suspeitas”, próximos ao aeroporto da cidade. Eles estavam sendo acusados de tentativa de assassinato ao presidente.
§ Todos os canais de TV só passavam isso. Em todos os lugares por onde eu ia os televisores estavam ligados com várias pessoas em volta. Os rapazes acusados diziam ser inocentes: contaram que estavam apenas caçando na região. Eu não sei se isso é coisa comum por lá - caçar (?!?!) perto de um aeroporto - , mas toda a população de Santa Cruz acreditava neles e dizia revoltada que aquilo era mais um dos golpes do presidente. Como o presidente em questão era o Evo, que é um cachorrinho do Chavez, eu até dei uma de maria vai com as outras e achei que o governo estava alardeando demais (só que na verdade eu pensei na possibilidade de o governo ter pago aqueles caras pra eles fingirem).
§ Enfim, eu voltei ao Brasil na madrugada seguinte e era tanta coisa na minha cabeça, que eu abstraí esse acontecimento e nunca soube qual foi o desfecho.
§ Sobre a atual situação: eu não gosto do Chavez. Ele é um doido varrido que parece ditador de direita (ao invés de herói socialista) e tá doido pra passar a perna no Brasil por puro recalque. O sonho dele era ser o líder da América Latina, mas o nosso país é naturalmente o líder e ele morre de inveja. O Evo é o cachorrinho dele, que faz tudo pra chamar a atenção, mas uma coisa deve ser dita: ele tem sim o apoio da maior parte dos bolivianos. E me dá uma certa tristeza quando vejo ou ouço o que está acontecendo na Bolívia. Nós reclamaos do Brasil, mas eles têm muito mais problemas que nós. A Bolívia é um país pobre, parece uma terra de ninguém...

terça-feira, 2 de setembro de 2008


§ Esse mochilão pela Bolívia e Peru foi umas das melhores coisas que fiz na vida. Por tudo, até pelo fato de ter viajado sozinha. Várias pessoas disseram que eu era louca, e se eu for mesmo, agradeço a Deus, pois essa loucura me fez ver paisagens lindas, inóspitas, que eu acho que mesmo que eu tenha uma amnésia, nunca vou esquecer.
§Viajar sozinha de certa forma também elevou minha auto-estima e me fez confiar mais em mim mesma. Muitas pessoas que eu conheço, incluindo aí muitos marmanjões metidos a macho, não teriam coragem de passar por coisas que passei. Não foi fácil mesmo; por mais que a língua seja parecida, e eu tenha continuado aqui na América do Sul, eram outros países, diferentes do meu. Culturas diferentes, modos de vida de diferentes. E eu tava lá, com a cara, a coragem e a mochila nas costas.
§Fui sem fazer uma reserva sequer. O que eu sabia, era de relatos que tinha lido e informações que tinha buscado nos blogs e orkut. Todo mundo fazia planilhas no Excel, de gastos, de transportes, hospedagens, tours, lugares, deslocamentos, alimentação. Eu não fiz nada disso. A única coisa que eu tinha era uma folha A4, na qual eu tinha digitado os dias e a ordem dos lugares que eu iria visitar. Só isso, sem considerar gastos, meios de transportes, hospedagens, restaurantes, agências. E eu nem mexi nessa folha durante a viagem, porém a segui praticamente à risca, com a exceção de ter estendido em um dia o tempo em Cusco. Valeu a pena, a cidade é linda e agradabilíssima!
§ Então, eu chegava assim com a mochila nas costas e começava a perguntar, a descobrir. Assim que cheguei ao aeroporto de La Paz descobri que um táxi até a cidade me custaria uns 60 bol. Mas sou brasileira e não desisto; em meio aos milhões de taxistas me azucrinando, encontrei uma van que estava indo à cidade e me custaria a bagatela de 3,80 bol. Lancei minha mochila no alto da van (a contra-gosto, confesso. Tava morrendo de medo dela cair no meio da viagem e eu ficar sem nada) e fui. Olhei o mapa que eu tinha conseguido em Santa Cruz e falei: “señor, quiero bajar acá”, apontando para a Plaza san Francisco. De lá, comecei a andar em busca dos hotéis e albergues. Minha intenção era pesquisar por vários e depois escolher o que se encaixa$$e melhor. Mas devido ao ar rarefeito, aliado à mochila nas costas, que me faziam parar a cada dois passos, fiquei no primeiro hotel que visitei.
§ Até o quinto dia da viagem, passei muito mal por conta da altitude. Muita dor de cabeça, enjôos e vômitos intermináveis, eu não conseguia dormir e comer nada. Nesses primeiros dias, estava totalmente sozinha. Conheci poucas pessoas nos tours (sim, eu fazia os tours passando mal mesmo; tinha pouquíssimos dias pra viagem!), e no final dos dias, voltava aos hotéis, onde ficava mal a noite toda. Na minha segunda noite tive que segurar o choro e a vontade de ligar pra minha mãe e dizer que eu estava desistindo e voltando pro Brasil.
§ Mas eu fui firme. Tinha desejado e sonhado tanto com esse mochilão... Depois desses dias de altitude sickness, as coisas começaram a melhorar. Me acostumei quase que totalmente à altitude (só sentia muito cansaço e falta de ar quando tinha que escalar, subir algum morro. E isso não aconteceu poucas vezes!), conheci pessoas maravilhosas e quase chorei por ter poucos dias de viagem!
§ Tive alguns perrengues, mas mochilão que é mochilão, tem que ter o seu. Alguns eu enfrentei sozinha, outros, com as pessoas que eu ia conhecendo. E agora posso rir deles e contá-los até com um certo orgulho.
§ A verdade é que mais que o fato de ter conhecido lugares e pessoas incríveis, essa viagem me fez conhecer um pouco mais de mim mesma. E na mesma medida em que sou bastante medrosa, sou corajosa suficientemente para enfrentar os meus medos e me entregar à vida. Posso ter cansado demasiadamente o meu corpo em alguns momentos. Mas a minha mente se renovava a cada passo. E eu amo isso!