sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Bienvenido a Chile - Parte 2


§ O Chile sofreu com uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina. Conversando com a Andrea, dona da pousada na qual me hospedei em Pucón, a mesma começou a falar do quanto admirava os brasileiros, que nós éramos e estávamos sempre alegres, sem importar o que acontecesse. Para ela, os chilenos eram sérios, carrancudos, tristes demais. Eu e o FH, um dos brasileiros do mochileiros.com que estava comigo em Pucón, confabulamos se talvez a ditadura, que como eu mencionei, foi uma das mais sangrentas da América Latina, não os tivesse deixado assim. Ela contou que pode até ter acentuado essas características, mas que eles sempre foram assim, meio tristes.

§ Eu lembrei então que uma vez o Neruda, ele próprio chileno, escreveu que a geografia de um país reflete bastante as características e espírito de seu povo. E o Chile é assim: estreito entre a cordilheira e o mar, aliás a cordilheira parece querer empurrá-lo para o mar, cheio de falhas geológicas, de catástrofes causadas por terremotos e vulcões. O Chile é um país ferido geológica e geograficamente, e ao que parece, seu povo também...

§ Há um outro motivo para essa "tristeza" chilena: o clima, que geralmente é frio. Deve haver pesquisas que comprovem isso, mas mesmo sem citá-las podemos chegar à conclusão de que as pessoas de lugares muito frios são mais sérias e reservadas que as de lugares quentes. Pessoas que vivem em países tropicais, mesmo que pobres, parecem ser mais felizes do que as que vivem em países frios. Exemplo disso somos nós, os latinos, super calorosos. A Andrea falou que no norte do Chile, que é mais quente, as pessoas são mais alegres e calorosas, o que eu pude comprovar quando estive lá. À medida que se vai descendo pelo país, o povo se torna mais reservado.

§ Isso me fez pensar em mim mesma. Sempre odiei o calor e amo tempo frio. E por mais que as pessoas achem o contrário, sou "interiormente" falando, fria. Nunca fui muito de abraçar e beijar e sair falando com todo mundo, nunca tive essa brasilianidade, essa alegria excessiva. Acho que agora até melhorei; depois que comecei a mochilar na América Latina me tornei mais latina. Estou mais alegre, de vez em quando até gosto de dias com sol (mas que sejam frios ou no máximo frescos, quentes não!!) e não tenho mais manifestado tanto aquela personalidade introspectiva e depressiva que eu sempre costumei ter... Tá bom, esse post não é sobre mim!
§ Voltando a falar do povo, a Andrea também nos contou sobre a rixa que existe entre os chilenos e os argentinos (aliás, os argentinos têm rixa com TODOS os países sul-americanos). Eu preciso estudar mais História, porque não sei se foi uma guerra ou uma simples disputa, só sei que a Andrea falou que (há muito tempo) o Chile cedeu uma parte da Patagônia aos argentinos, que hoje faz parte da Patagônia argentina. Mesmo assim, nuestros hermanos cismam em afirmar que os chilenos estão doidos pra invadir a patagônia deles (como se sempre houvesse sido deles). Eu mesma lembro de já ter lido inúmeros comentários assim nos sites do La Nación e do Clarín. Coisas do tipo, como o mar está subindo e eles não têm muitas terras, estão se rearmando para nos invadir e nos fazer colônia deles. É pra rir né.... os argentinos são muito histéricos, mas isso também é assunto pra outro texto.
§ Aproveitando que eu já citei Pucón, vou escrever um pouquinho acerca dessa cidadezinha. Ela é minúscula, tem uma avenida principal e algumas ruas que a cruzam. Em qualquer ponto da cidade onde você se hospede, estará bem localizado. Pucón está às margens do lago Villarrica, próxima ao lindo e ativo vulcão que leva o mesmo nome do lago. Assim que eu cheguei à pousada, vi na porta uma mensagem que dizia para não dar comida aos cachorros na rua. Como eu tenho medo de cachorros, nem me atreveria mesmo a fazer isso. Muito bem, foi só eu sair pra dar umas voltinhas que os cachorros começaram a me seguir. Cara, os cachorros da cidade reconhecem os turistas, e como eu fui em uma época de baixa temporada (o lugar tava praticamente vazio), não tinha muita gente pros bichanos seguirem. Aí já viu né... eu passei três dias lá e nos três dias TODOS os cachorros da cidade me seguiram. Isso mesmo, TODOS. Às vezes eu entrava nos mercados, nas lojas e ficava uns minutos lá pra ver se os bichos sumiam, mas era só colocar o primeiro pé pra fora que eles reapareciam e me seguiam novamente.
§ Eles também ficavam atrás do Murilo e do FH, que estavam comigo, mas o alvo principal era eu. Eles só iam pras bandas dos meninos quando não conseguiam espaço perto de mim (eram uns 10). Eu acredito que deve ter sido porque eu tava sempre comendo alguma besteira, algum doce, e colocava o papel e a embalagem nos bolsos. Eles deviam sentir o cheiro e por isso ficavam me seguindo, só pode! O mais engraçado é que no meu último dia lá eles estavam atacados. Então de vez em quando tentavam atacar alguém na rua. E as pessoas me xingavam, achando que os cães eram meus. Logo eu, que tenho tanto medo de cachorro...

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