terça-feira, 6 de setembro de 2011

Lembranças repentinas da infância

§ Quando eu era criança a minha mãe me contou sobre a falha de San Andreas. Ela dizia, enquanto me mostrava no mapa, que um dia haveria um grande terremoto que separaria a Califórnia do resto dos EUA. Ela só não me explicava (ou até o fazia, mas eu era pequena demais pra assimilar tudo aquilo e agora lembrar de todos aqueles detalhes) que isso NÃO se daria em um único sismo e que o afastamento das terras levaria milhões de anos. Então todos os dias eu esperava ansiosamente o início do telejornal, pra ver se haveria alguma reportagem mostrando a separação da Califórnia.

§ Essa espera só era meio a contragosto na época em que passava Carrossel... Naquele tempo só tínhamos uma televisão em casa, e a minha novela preferida passava no mesmo horário dos noticiários. Na batalha entre mim e meu pai, eu era sempre a perdedora...

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§ Lembro também de uma vez - eu tinha uns 4 anos - em que uma mulher pediu um pouco de comida na porta do prédio em que a gente morava lá em São Cristóvão. Minha mãe colocou uma parte do que ela tinha preparado pro almoço em recipientes de margarina (que ela junta até hoje e guarda no armário ao lado das tupperwares e dos potes de sorvete) e os entregou à mulher. A mesma, após agradecer, disse que tinha uma filha do meu tamanho e que a levaria no dia seguinte para brincar comigo. Eu, filha única, fiquei numa ansiedade só por poder ter uma nova amiguinha, e perguntava à minha mãe todos os dias se aquela senhora tinha trazido a filha. Essa mulher nunca mais apareceu, nem pra levar a garota, nem pra pedir comida.

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§ Então era assim: durante o dia eu importunava a minha mãe pra saber se a menininha tinha chegado. E durante a noite eu aguardava pra ver na TV a Califórnia transformada em uma ilha, no estilo de "A jangada de pedra".

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