§ A primeira impressão que eu tive de Uyuni, que algum tempo depois mostrou-se errada, era a de que ela parecia uma cidade meio fantasma, de faroeste. Só faltavam aquelas bolas de feno rolando de uma esquina à outra pra eu ter a certeza. Talvez essa impressão tenha sido causada pelo fato de que meu primeiro contato visual claro com o lugar se deu às 8:00am, em um dos dias mais frios do ano. Pra explicar isso, preciso voltar um pouco mais no tempo.
§ Eu tomei o trem que partia de Oruro para Uyuni às 7:00pm, e cheguei ao destino de madrugada. Já durante a viagem, eu, que sou extremamente calorenta e amo tempo frio, comecei a me tremer toda e parecia que ia congelar. E olha que estava vestida com uma segunda pele, uma blusa de manga comprida, um moletom e um casacão. Peguei os outros casacos da mochila e comecei a enrolar nas minhas pernas e nos braços, tentando amenizar a situação.
§ Eu não fiz reservas para hospedagem durante toda a viagem, mas Uyuni foi o único lugar onde isso me deixou assustada. Estava muito escuro e, principalmente, como já mencionei, fazia muito frio. Não havia uma viva alma fora da estação. Por conta disso, acabei aceitando o convite de hospedagem de uma das muitas pessoas que ficam pertubando nas saídas das rodoviárias e estações de trens bolivianas e peruanas.
§ Tomei um táxi com mais três portuguesas que já tinham viajado comigo de La Paz a Oruro (elas eram frescas e chatíssimas). O percurso foi mínimo; Uyuni é uma cidade minúscula, mas o frio era tanto que congelaríamos se fôssemos caminhando.
§ Logo na recepção fomos recebidas por uma menina que tinha uma cara super fechada, me senti bastante mal. Fui logo pro quarto, só tirei o tênis e me enfiei embaixo das cobertas. Dormi daquele jeito, sem trocar de roupa e sem escovar os dentes.
§ Como eu tinha poucos dias para voltar pra Santa Cruz, precisava começar o passeio do Salar do Uyuni na próxima manhã. Por isso, acordei às 7:00am, com a intenção comprar o tour em alguma agência. Fui ao banheiro e surpresa: a água estava congelada nos encanamentos! Enrolei um pouco e descolei uma água para lavar o rosto e escovar os dentes.
§ Foi então que eu saí e tive a primeira visão da cidadezinha. Eu era o único ser vivente na rua (o hotel ficava na avenida principal), passando o maior frio da minha vida. Fui caminhando e percebi que estava tudo fechado. Além de comprar o tour, eu precisa tomar o café da manhã. Continuei caminhando e encontrei um local. Ele me disse que eu poderia desayunar no mercado principal.
§ Cheguei lá e finalmente encontrei uma concentração, ainda que ínfima, de pessoas. Uma coisa é certa: é muito difícil encontrar um boliviano típico que seja simpático. Eles constantemente não respodem as suas perguntas e, quando o fazem, é com uma expressão tão feia e uma boca tão fechada, que não se consegue entender o que dizem. Conclusão: apesar do mercado ser pequeno, demorei um século até encontrar o lugar para comer.
§ Depois que comecei a beber o toddy, acompanhado por um pão com ovo, eu me lembrei porque estava evitando tomar chocolate quente na viagem: eles colocam apenas UMA colher de achocolatado no leite. E ai de você se pedir educadamente para pôr mais!
§ Terminado o café, fui atrás da agência para comprar o tour. Durante todo o mochilão eu pesquisei bastante antes de escolher uma agência, um albergue, um restaurante ou uma companhia viária. Mas em Uyuni foi tudo diferente, assim como no caso do hotel, fui direto para a Colque tours. Vários brasileiros tinham me falado super bem dela e, apesar de ser das mais caras, eu preferi não arriscar. Já depois de iniciado o passeio, eu descobri que a colque me enfiou no tour de outra agência. Enquanto eu tinha pago U$85, todos os outros pagaram U$60. Mesmo assim, não me arrependi. O povo do meu jipe era incrível. Tornamo-nos bons amigos.
§ Depois eu percebi que Uyuni não era ão fantasma assim. À tardinha é até um lugar bem movimentado, mas vê-se apenas uns poucos locais e uma multidão de mochileiros.
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